Investigadores da Universidade de Concepción no Chile desenvolveram um processo regenerativo da pele, que utiliza um derivado da quitina, uma substância extraída das carapaças de crustáceos.

A quitina é um polissacarídeo que constitui boa parte do exosqueleto de artrópodes como os crustáceos, além de estar presente noutros animais. É um material biodegradável e flexível, semelhante à celulose (um polímero derivado da glicose). Os cientistas chilenos usaram um derivado da quitina, o quitosano, material muito usado em produtos de emagrecimento, já que as suas moléculas se ligam aos ácidos gordos, impedindo assim a absorção pelo organismo.

A invenção, uma espécie de pele artificial biodegradável, já foi testada em meia centena de pacientes e é previsível que venha a ser vendida ao público por cerca de 25 euros.

José Domingos dos Santos, docente do curso de Bioengenharia da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e investigador na área dos biomateriais (reparação óssea e nervosa) e das células estaminais, explicou ao JPN que este novo desenvolvimento lhe parece “bastante promissor”.

Para o investigador português, a principal novidade está no “atenuar dos mecanismos de rejeição”, uma vez que se trata de células “retiradas ao doente e que são reimplantadas depois de crescerem em laboratório”, esclarece. “O quitosano é utilizado como substracto para o crescimento das células da pele e esse crescimento conduz ao crescimento de [própria] pele depois de as células serem colocadas no substracto de quitosano”, explica José Domingos dos Santos ao JPN.

“A tecnologia de irmos buscar células ao próprio doente para reimplantação já existe”, diz, “a novidade é estarmos a falar de regeneração da pele porque com tecido ósseo já se faz”, conclui o docente da FEUP. Os usos possíveis desta nova tecnologia são variados: cicatrizes, queimaduras, fracturas e “em todas as situações de perda de tecido”. Para José Domingos dos Santos, o principal problema é o atraso que o processo laboratorial pode envolver. “Não dá para todos os casos”, avisa.