Actualmente, é possível consultar centenas de milhares de livros na Internet. Se algo está em domínio público – e se alguém teve a iniciativa de o transcrever – o mais provável será encontrá-lo online. Hoje existem vários serviços que se debruçam sobre esta área, mas o primeiro pioneiro – é consensual – chama-se Project Guttenberg.

O Project Guttenberg nasceu em 1971, quando Michael S. Hart, um jovem estudante a tirar o curso na Universidade de Illinois, teve a oportunidade de trabalhar, nos laboratórios da universidade, com um computador Xerox Sigma V. A ideia original de Hart era disponibilizar, “de graça ou a um preço moderado”, as dez mil obras mais consultadas pelo público americano, começando pela Declaração de Independência dos Estados Unidos da América.

A guerra dos formatos

Uma das maiores controvérsias no mundo dos e-books gira à volta dos formatos. Apesar do PDF ser o formato mais popular para a leitura de documentos na Internet, não é o formato mais utilizado por quem fornece livros em formato digital. Tanto a Ebook Store da Sony, como o serviço Kindle, da Amazon, possuem software próprio, cujo download é obrigatório para aceder aos conteúdos. A Project Guttenberg disponibiliza actualmente 75 mil livros em formato PDF, mas, segundo Hart, preferem optar pelo “simple text porque chega às pessoas de todas as formas sem grandes problemas”, permitindo o acesso até mesmo em leitores de MP3.

Com a chegada da Internet, e a maior difusão de computadores para uso pessoal, o projecto deixou de ser uma mera experiência laboratorial, para ganhar protagonismo. Em 1989, a introdução de scanners e de software de reconhecimento de caracteres tornou a tarefa da digitalização muito mais fácil (anteriormente a transcrição era manual). O mundo online permitiu também que mais e mais pessoas se interessassem pela iniciativa.

Hoje em dia, o Project Guttenberg é uma associação sem fins lucrativos, com colaboradores pelo mundo fora. Outros serviços, como a LibriVox, utilizam o projecto como ponto de partida para as suas próprias iniciativas. E, apesar da recente investida da Sony e da Google com o projecto Google Ebooks, o Project Guttenberg mantém-se como um dos nomes de referência para quem procura e-books.

“Fazemos o trabalho por amor aos livros”

Sendo uma iniciativa completamente voluntária, é pertinente perguntar qual o grau de rigor do Project Guttenberg nas suas transcrições. “Cada e-book do Project Guttenberg é revisto por duas pessoas, bem como pelos muitos programas de correcção ortográfica que temos criado ao longo das décadas”, explica Michael Hart ao JPN.

“Para além disso, os nossos leitores são encorajados a mandar correcções para o e-book que estejam a ler. O resultado é que, centenas de vezes por ano, se não milhares de vezes, relançamos um e-book com correcções.” Para Hart, é precisamente o voluntariado a mais-valia do projecto: “Todos os outros serviços preocupam-se com os custos, nós somos voluntários. Fazemos o nosso trabalho por amor aos livros”.

E as ambições actuais do Project Guttenberg? “Se publicarmos 40% dos 25 milhões de livros em domínio público, em 40% das 250 línguas existentes no planeta, isso dá um bilião de e-books!” Apesar da dimensão épica de um projecto destes, Hart acredita que este objectivo vai ser alcançado “mais cedo ou mais tarde”. “E será mais cedo!”, graceja.

As restrições tecnológicas não parecem ser um problema. “Uma terrabyte drive, se utilizarmos ficheiros zip, alberga dois milhões e meio de e-books com um milhão de caracteres cada”, explica Hart. “De momento, tenho cinco drives destas, o que dá para doze milhões e meio de livros. Não devem existir mais de vinte bibliotecas no mundo com uma quantidade de livros semelhante.”