Há cerca de um ano um incêndio inutilizou parte do edifício da Reitoria da Universidade do Porto (UP). Agora, os locais afectados transformam-se num espaço “não-convencional” que acolhe, até ao final de Agosto, a exposição “Rescaldo e Ressonância!”.

Inês Moreira, comissária da exposição, explica que o projecto surgiu numa altura em que o espaço “já não é um incêndio, mas ainda não tem outro uso”, o que deu origem à instalação de uma “dimensão de rescaldo” que os artistas quiseram explorar de uma forma “simbólica”. Como tal, Inês refere que o projecto “não é de fácil compreensão, não é imediato”. “Há um primeiro momento muito físico, outro que implica cultura visual e reflexão… É para um público bastante específico.”

O projecto, que reaproveitou materiais do próprio incêndio, é dividido em três momentos. O primeiro, que ficou a cargo do músico Jonathan Saldanha, trata-se de um corredor escuro que simula uma situação de tensão, através de sons provocados pela vibração das paredes. A intenção, afirma Jonathan Saldanha, é de “provocar um desajuste físico para com o espaço.” “As colunas e o som que existem estão a tentar libertar as memórias nas paredes.”, reflecte o músico.

O segundo espaço é da autoria do artista plástico Paulo Mendes. Na sala escura podem-se ouvir vários sons e assistir à projecção de vídeos do edifício e de imagens cinematográficas de incêndios. A ideia é conseguir representar “o imaginário colectivo das chamas” numa “perspectiva muito subjectiva e ficcional”, diz Inês Moreira.

O último local da exposição situa-se no antigo laboratório, o “principal foco do incêndio”. Nesse espaço foi introduzida uma “instalação tridimensional”, com projecção de vídeo das fotografias de André Cepeda.

Exposição de “esperança”

Na inauguração da exposição, esta quinta-feira, o reitor da Universidade do Porto, Marques dos Santos, fez questão de salientar a “visão diferente, não catastrófica, mas de esperança” da exposição agora aberta ao público.

Marques dos Santos refere que a instalação “interessa muito” à Reitoria, pois “dá vida ao edifício e à cidade”. O reitor considera esta iniciativa “uma exposição criativa”, com uma “maneira diferente de pensar arte” e que, por isso, é “uma oportunidade para os docentes e estudantes de praticar o seu trabalho”.

A própria curadora do projecto, Inês Moreira, encara todos os locais cedidos pela UP como uma oportunidade “para se fazerem instalações que não encontram espaço de acolhimento nas outras instituições”.