No mês em que se assinalam os quinze anos da sua morte, o JPN foi saber o que fãs, músico e jornalista ainda recordam o homem que deu voz aos Nirvana.

Em 1986, nascia em Seattle a banda que viria marcar a música dos anos 90. Com um estilo marcado pela fusão entre o rock, o punk e o metal, que a imprensa rotulou de “grunge”, os Nirvana atingiram a popularidade em 1991, com o álbum “Nevermind”, sem que fosse essa a sua intenção. “O que Kurt Cobain e os seus companheiros fizeram ecoou de uma forma muito especial na cabeça de toda uma geração”, refere Rui Miguel Abreu, jornalista da Blitz.

“Talvez porque vindos dos anos 80 e de alguns excessos que se cometeram na música na década de 90, as pessoas andassem à procura de uma voz que traduzisse uma certa angústia, porque era isso que o Kurt Cobain cantava”, continua.

E encontraram. “Ele foi o porta-voz de sentimentos turbulentos, depressivos, de uma enorme angústia, mas que se devem passar cá para fora”, afirma Miguel Guedes, vocalista dos Blind Zero. “A arte pode fazer-se com sol ou chuva, ele claramente preferia as nuvens e a chuva”, acrescenta.

“Smells Like Teen Spirit” tornou-se no hino da juventude dos anos 90. A mediatização de que foi alvo Kurt Cobain fez com que nunca soubesse lidar bem com a fama. Na opinião do jornalista da Blitz “de certa maneira ele terá sido naquela época aquele ser auto-destrutivo que hoje nós reconhecemos na Amy Winehouse, embora se imponham as devidas distâncias”.

E hoje, passados quinze anos sobre a sua morte (a 5 de Abril, de 1994), tudo continua a fazer sentido. “Com o passar dos anos percebe-se melhor o quão icone é o Kurt Cobain, é uma espécie de Che Guevara da música popular”, salienta Miguel Guedes.

Rui Miguel Abreu, na época jornalista na Rádio Marginal, recorda a euforia vivida na altura, a que Portugal, depois de algumas reservas, não ficou indiferente. “Lembro-me que em qualquer concerto que ia havia imensas t-shirts dos Nirvana, sinal inequívoco que eles estavam a chegar às pessoas”.

Do concerto em Cascais, a que o jornalista assistiu, fica a impressão de um momento especial. “Eu acho que ninguém saiu daquele pavilhão naquele dia sem ter a noção que tinha assistido a um momento histórico”, recorda.

Música intemporal

Nelson André e Nuno Tavares começaram a ouvir Nirvana quando a banda ainda estava activa. Hoje, têm uma banda – os Loose Ground – que surgiu da influência directa das músicas, letras e postura do grupo de Seattle. “Penso que as músicas deles trouxeram um lado mais humano, e menos festas, e somos rock stars muito maus, com uma atitude muito feita de pose e estilo que estava em vigor antes”. A forma de encararem a música devem-na aos Nirvana, cuja música, revelam os fãs de Lisboa, “será música intemporal que acompanhará as gerações futuras”.

Também para Bárbara Silva, 26 anos, a música dos Nirvana continua actual, pois “as bandas mantêm-se actuais mesmo não existindo”, afirma acerca da banda que marcou a sua adolescência.

A “descendência” criada pela banda é uma certeza, segundo Rui Miguel Abreu. “Ainda hoje bandas de guitarras que aparecem de pessoas com uma determinada idade foram certamente influenciadas por eles, quer seja nas letras, na sonoridade…”, refere.

Ja Miguel Guedes revela a influência nos Blind Zero, formados na mesma altura (1994), inseridos no mesmo “movimento”. “Na altura em que estávamos a fazer o nosso primeiro disco já tinhamos ouvido o ‘Smells Like Teen Spirit’ e isso fez toda a diferença”, refere o vocalista ao JPN.