É a três metros do chão que Joana Martins treina na escola de circo. O trapézio é só um passatempo, mas já caiu durante um espectáculo sem se magoar. Para a estudante de Ciências farmacêuticas, há profissões de risco que valem pela adrenalina.
Raquel Nicoletti nunca se magoou “a sério”, mas diz que o equilíbrio de qualquer acrobata depende da concentração com que sobe ao palco. Para a trapezista profissional, “há alguns sentimentos e pensamentos que quem está numa situação de perigo não pode ter”. De qualquer modo, confessa que o medo provocado no público é muitas vezes encenado.
Tiago Monteiro não tem tempo a perder com o medo. Mãos ao volante e não pensa em mais nada. O ex-piloto de Fórmula 1, diz que a consciência do perigo é superada pela “paixão e a vontade de vencer”. Facto que não impede a família de ficar à espera que regresse a casa, “com o coração nas mãos”.
O piloto perdeu uma vez a consciência durante uma prova, mas isso não o assusta. Antes de cada competição, o ritual repete-se: 45 minutos de isolamento total para “entrar num estado de concentração máxima”.
“Casamento forçado” com o perigo
Da magia do circo e das corridas para o “mundo real”, a verdade é que são muitos os exemplos de pessoas que, na sua vida profissional, enfrentam perigos e desafiam a sorte [Vídeo]. Exemplos recordados na passada segunda-feira, no Dia Nacional de Prevenção e Segurança no Trabalho, data que visa alertar para a prevenção de acidentes de trabalho e para as doenças profissionais.
Domingos Folha é pescador desde os treze anos e soube da pior maneira o que é um “acidente de trabalho”. Ainda se lembra de quando foi buscar o corpo do irmão ao fundo do mar. Já pediu a Deus “para ser uma gaivota durante um temporal”, mas é com humor que volta ao trabalho todos os dias, desejando a si próprio “boa viagem”. Foi “empurrado para um casamento forçado” com a pesca, mas agora não se vê a fazer outra coisa.
As minas da Panasqueira já levaram amigos a Manuel António. É para o lugar onde brincava com os amigos “desde garoto” que agora vai todos os dias trabalhar. O mineiro sabe o perigo que corre, mas diz que agora é tarde para “experimentar” um emprego diferente.
Ana Bastos é enfermeira, e desde 1994 que troca por alguns meses o IPO do Porto pelas missões da AMI. Em Moçambique passava por campos minados sem saber se tudo iria pelo ar. O batalhão militar do Botswana, pronto para a proteger, estava a 80Km do hospital de campanha onde trabalhava.
Ana sabia que as missões eram perigosas, mas casos como o de um menino que trazia os amigos doentes às costas até ao hospital fazem-na esquecer os riscos. Ainda assim, a enfermeira recusa o rótulo de “boa samaritana”, e diz que “salvar é relativo” e enfrentar um cenário pós-guerra para ajudar quem precisa “é o mínimo que pode fazer”.