Hi-fi, máquinas fotográficas, artigos de coleccionador ou instrumentos musicais são alguns dos artigos usados que se podem encontrar na Segundo Mercado. O estabelecimento é apenas um exemplo entre várias lojas do Porto que vendem e compram artigos em segunda mão.

A primeira loja, na Boavista, recebe clientes há dez anos, enquanto que o segundo espaço, em Santa Catarina, existe há quatro. Luís Peixoto, gerente de ambas as lojas, descreve a oferta como “generalista”, mas exclui as peças maiores de mobiliário, “por questões de logística”.

No que à crise diz respeito, o gerente da Segundo Mercado diz que as vendas não têm sido afectadas de forma significativa. Mas, há diferenças na parte das compras da loja. Como explica, “há mais pessoas a precisar de dinheiro, e daí abdicam mais dos seus bens. Muitas das vezes precisam de pagar mensalidades, ou até mesmo medicamentos”.

Um negócio procurado por todos os estratos sociais

Sendo um espaço com uma oferta variada, também o cliente-tipo não se resume apenas a um estrato social. Luís Peixoto considera que a procura vem de todas as classes, e ilustra: “há o cliente de classe média/baixa que precisa de um fogão, ou de um computador para o filho, mas depois também há o cliente de classe média/alta, que sabe que um Rolex novo custa quatro mil euros e que aqui o encontra a dois mil ou dois mil e quinhentos”.

A imagem de “cliente bem informado, atento a boas possibilidades de negócio” é a que encaixa, de acordo com o gerente, no perfil daqueles que procuram a Segundo Mercado.

Vendas crescem

Outro exemplo de espaços de venda e compra de produtos em segunda mão é o da cadeia de lojas Porto Alternativo. Para além da loja da Rua de Santo Ildefonso, no Porto, também existem outras em Gaia, Matosinhos e Aveiro. Dentro de quatro semanas abrirá uma nova.

À semelhança da Segundo Mercado, a oferta da Porto Alternativo é variada. No que toca às vendas, gerente Bruno Gomes diz que ” em relação ao ano passado, cresceram” e que também notam a procura aumentar “por parte de certas pessoas para vender alguns produtos que dantes não eram vendidos. Acontece por falta de dinheiro, essencialmente”, refere o proprietário.

Não é a crise, porém, que leva Nuno Martins a procurar frequentemente lojas de produtos em segunda mão. “Têm preços acessíveis, e os artigos se encontram em boas condições”, argumenta o estudante de Cinema e Audiovisual, que compra essencialmente dvd’s e cd’s, e já vendeu uma consola.

O jovem afirma que as lojas são, “em tempos de recessão” uma “boa alternativa”, e uma opção viável para quando tem menos dinheiro. E alerta, referindo-se a uma nova tendência na área do comércio de artigos em segunda mão: “Se estiver apertado de economias, recorro a lojas em segunda mão, ou a sites como o Miau.pt”.

“Há pessoas que não gostam de comprar usado, só querem novo”

O preconceito é algo que, segundo Bruno Gomes, faz parte desta área de negócio, ainda que tenha diminuído nos últimos tempos. O gerente da Porto Alternativo explica: “há oito anos, quando comecei neste ramo, enquanto funcionário, notava-se mais preconceito do que o que existe agora. Com o tempo e nascimento de mais casas tem vindo a diminuir, mas existirá sempre” e remata, acrescentando que “há pessoas que não gostam de comprar usado, só querem novo”.

Na Luis Peixoto entende que o problema não é a questão do preconceito, mas antes a “pouca e má informação”. “Temos procedimentos legais a cumprir, para assegurar a qualidade do produto. Todos os produtos que vendemos têm garantia pelo menos de um ano”, refere o responsável pela Segundo Mercado, para quem “a relação de confiança com o cliente é o mais importante”.