Professor na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Luís Paulo Reis convive, diariamente, com robots. “Treinador” da equipa de futebol robótico da FEUP, o investigador considera que, em 20 anos, não haverá diferenças significativas entre humanos e “robots humanóides”.

JPN: Depois de uma carreira brilhante a nível académico, porquê a robótica e a inteligência artificial?

LPR: Sempre foram áreas que me fascinaram durante a licenciatura e o mestrado, onde tive várias disciplinas na área e, posteriormente, pelos desafios da investigação e pela visão de futuro que permitem ter. Realmente, a introdução da inteligência em máquinas sempre foi uma área que me fascinou desde miúdo quando via alguns filmes de ficção científica.

Qual é o limite da investigação nesta área?

O limite é não existir limite. Na realidade, essa é uma pergunta complicada porque nós pretendemos criar metodologias para tornar as máquinas inteligentes. Se calhar, o limite é criar máquinas que nos venham a substituir, pois não é isso que pretende, mas sim criar robots que possam ser complementares aos humanos.

Considera que é possível a inteligência artificial equiparar ou ultrapassar a inteligência humana?

Penso que é possível, em determinadas áreas criar máquinas que sejam tão inteligentes como os humanos, ou eventualmente mais inteligentes. Há áreas específicas em que isso já está comprovado, como por exemplo criar uma máquina capaz de jogar xadrez tão bem ou melhor que os humanos. Há outras tarefas em que ainda não conseguimos chegar lá, e vai demorar muitos anos, como conduzir um automóvel, que é uma tarefa bastante complicada para uma máquina.

De todos os projectos em que esteve envolvido, quais os que destaca a nível da robótica?

Há muitos projectos em que estive envolvido que considero interessantes, como o do futebol robótico, em que aplicámos a nossa investigação na área da robótica à criação de equipas de robots reais ou virtuais capazes de jogar um jogo de futebol. Este projecto é bastante relevante sobretudo pelos resultados que obtivemos: três campeonatos do mundo e seis campeonatos da Europa, em modalidades distintas. E, realmente, comprovou-se que a investigação que fazemos nesta área é competitiva a nível internacional.

Perfil

Luís Paulo Gonçalves dos Reis nasceu no Porto, em 1970. Em 1993 concluiu a Licenciatura em Engenharia Electrotécnica e de Computadores, na Faculdade de Engenharia da Universidade. Ainda nesta instituição, Luís Paulo Reis completa o Mestrado e Doutoramento em Inteligência Artificial, área de investigação em que se destaca. Professor na FEUP desde 1992, o investigador colecciona prémios ao nível da robótica e da Inteligência Artificial.

Que outras aplicações pode ter a tecnologia que se desenvolve nessa área?

Neste momento estou também envolvido num projecto bastante interessante, em que o que estamos a fazer é criar metodologias que permitam a robots heterogéneos, em conjunto, executar uma tarefa que exige cooperação e, eventualmente, até cooperação com humanos. As áreas de aplicação depois são muitas, desde o apoio à deficiência, aos idosos, através de robots médicos ou enfermeiros. Neste momento, há imensas tarefas socialmente muito úteis onde depois a coordenação dos robots pode ser aplicada.

Todas essas tarefas são na perspectiva de auxílio dos humanos. Esse pensamento está presente quando investiga?

Sim, está sempre presente. Nós pretendemos criar robots ou metodologias de inteligência artificial que sejam integráveis, por exemplo, em programas de computador ou em equipamentos, de forma a auxiliar os humanos. Não estamos aqui a querer criar robots que no futuro vão substituir os humanos.

Como é que todos os projectos de investigação nesta área são comunicados ao público?

Nós temos procurado comunicar a investigação que realizamos em acções de divulgação. É sempre complicado, porque o público em geral obviamente não pode perceber os detalhes da investigação e, por vezes, parece que estamos a fazer e investigação. Eu tenho-me esforçado por comunicar em acções de divulgação, como palestras. Mas é interessante verificar a diferente reacção das crianças, desde o nível etário mais baixo até aos jovens que já estão no ensino superior. Acho muito interessante divulgar a investigação que é realizada, até para as pessoas perceberem que os robots e a inteligência artificial não estão longe do nosso dia-a-dia.

É uma aposta da FEUP a formação de novos investigadores?

Acho que sim. Tenho muitos investigadores, neste momento, a trabalhar comigo e procuro, sobretudo, formá-los para serem novos talentos de investigação. A nível da FEUP, as condições para os investigadores e para os professores também são muito boas. Não me posso queixar das condições a nível de espaço e equipamentos. Já as condições financeiras têm de ser os próprios investigadores a arranjá-las, através de projectos nacionais e internacionais e de bolsas de doutoramento que obtêm para os seus estudantes.

Quais considera serem os maiores desafios que a UP enfrenta na actualidade?

O grande desafio da universidade é conseguir ligar três componentes base. Uma componente mais científica, a componente pedagógica e uma componente mais administrativa e organizativa. Isto é, como organizar o espaço e as pessoas, os horários, os calendários, os serviços. Eu considero que um muito bom docente universitário deve ser capaz de auxiliar e ter estas três valências. Uma valência mais administrativa, ser capaz de colaborar na organização da própria universidade, através de cargos de gestão ou da colaboração com os órgãos de gestão; ser capaz de realizar investigação científica válida, reconhecida internacionalmente, porque só assim é que a universidade também será reconhecida internacionalmente, através de publicações em revistas e conferências da especialidade; e ser capaz, também de ter uma componente pedagógica adequada. Isto significa ser capaz de dar boas aulas, actuais, bem preparadas e realmente transmitir os conhecimentos aos estudantes.