As famílias portuguesas são das que mais esforço têm de fazer para pagar a educação superior, logo seguir aos ingleses. Esta é a conclusão de um estudo comparativo entre Portugal e os dez países mais ricos da Europa.

Desenvolvido no âmbito da tese de doutoramento de uma investigadora da Universidade de Lisboa, o trabalho conclui que cerca de 11% do PIB per capita português é gasto com o ensino universitário. O estudo, baseado em dados de 2005, concluiu que o custo médio anual para frequentar o ensino superior público em Portugal, é de 5310 euros.

Comparando estes resultados com os dados da OCDE “Education at Glance”, de 2007, o estudo indica que em Portugal, ter o diploma custa 10 vezes mais que na Finlândia, quatro vezes mais que na Bélgica, Suécia e Irlanda e o dobro do que é pago em França.

Apesar do esforço feito para obter o diploma, os estudantes portugueses são os que menos apoios recebem ao nível da acção social. Os apoios nacionais chegam a cobrir apenas 18% dos custos totais, enquanto no resto da Europa as percentagens variam entre 20 e 93%. A excepção fica por conta de Itália e Irlanda, onde os alunos estão ainda em pior situação.

Ensino superior é “elitista”

Tânia Oliveira, aluna bolsista da Universidade do Porto, recebe cerca de 145 euros por mês, mais o subsídio para o transporte. Pondo de parte o valor das propinas, a estudante conta com 40 euros para as restantes despesas.

“Ao fim do mês resta-me uma média de 40 euros, o que nem sequer cobre metade das despesas com a alimentação. A bolsa é uma ajuda porque nos paga as propinas,
mas não faz muito mais do que isto. Não ia dar para me virar só com este dinheiro”, afirma a universitária ao JPN.

Em ano de crise financeira, os atrasos fazem-se presentes e os estudantes são forçados a procurar alternativas. “O facto de muitas vezes atrasarem o pagamento, o que aconteceu já algumas vezes este ano, obriga-nos a fazer um esforço financeiro para o qual muitas vezes podemos não ter condições. Muita gente desiste porque não pode simplesmente passar um mês sem comer até receber o dinheiro, e há outros que nem pensam entrar na faculdade, já que não contam com um sistema de ajuda social seguro e compensador”, desabafa a bolsista.

Ao “Diário de Notícias”, Luísa Cerdeira confirma o “pendor elitista” que caracteriza o sistema de ensino superior português, facto que terá origem no “substancial aumento das propinas” verificado nos últimos anos. Entre 1995 e 2005, houve uma subida de 452%, sendo que, actualmente, o valor anual das propinas pode chegar aos mil euros, valor máximo definido por lei.

Questionada sobre se o sistema de educação superior tende ao elitistmo, Tânia Vanessa não hesita em dizer “sim, porque a educação devia ser para todos”.