Devido à crise económica, mas também por razões sociológicas, o desporto nas rádios regionais e locais já não é atractivo nem para os investidores nem para as audiências. No fundo, “já não vende”, admitem os responsáveis destas estações radiofónicas, outrora casos de sucesso na difusão de eventos desportivos de âmbito regional e local, com emissões que se estendiam no tempo durante várias horas.

Os últimos dados relativos ao investimento publicitário no meio rádio em Janeiro deste ano apontam para uma quebra de cerca 33 % no montante investido pelas empresas, o que coloca a rádio na liderança das maiores perdas no seio dos órgãos de comunicação social em Portugal.

Derivando deste paradigma, a crise financeira atinge, mais do que as grandes rádios de âmbito nacional, as pequenas estações que são agora obrigadas a cortar na aposta feita em anos anteriores na programação desportiva. A Rádio Lidador, da Maia, é um desses exemplos, já que “o investimento que é preciso fazer em termos de cobertura de desporto é elevado”, explica José Freitas, director de programação da rádio.

“Esse investimento é elevado não só em termos de meios humanos mas também materiais, e não há rentabilidade necessária. Quando é necessário cortar, corta-se por algum lado e o desporto acaba por ser uma das opções porque implica sempre muita gente e porque há um dispêndio significativo em deslocações nas horas em que as pessoas desenvolvem o seu trabalho”, esclarece o responsável, reforçando que “o retorno financeiro não é compensado com o benefício em termos de publicidade, que é a nossa única fonte de rendimentos”.

Traçando uma comparação entre o passado e o presente, José Freitas que encontra “diferenças significativas” que ajudam a justificar a quebra na aposta massiva que caracterizou os últimos anos na realidade radiofónica regional.

“O desporto já não atrai a audiência”

A quebras das audiências, “sobretudo aos domingos à tarde” é também uma realidade na Rádio Clube de Matosinhos (R.C.M). “Não é só devido à falta de publicidade. Também é devido ao facto de as pessoas já não ligarem muito ao desporto e, em concreto, ao futebol”, assevera Luís Almeida, editor de desporto da R.C.M, cuja aposta se foca, sobretudo, na cobertura dos principais clubes desportivos do concelho.

O radialista é o primeiro a admitir a falta de predisposição dos ouvintes para acompanharem as transmissões desportivas alargadas a uma tarde inteira de relato e informação desportiva.

“Em termos radiofónicos, um relato inteiro não vende! Muito poucas pessoas conseguem suportar isso, mas a grande maioria dos ouvintes já não consome e só se importa em saber o resultado final”, remata, deixando pendente a ideia de que estas rádios poderão vir a ser obrigadas a a sua própria programação da área na tentativa de chegar a mais segmentos de audiência.

No fundo, “o desporto, nos dias de hoje, não vende em termos comerciais e não vende em termos de audiência” para as rádios, o que leva José Freitas a com a opção mista entre música e desporto equacionada por Luís Almeida, já que seria “uma opção vantajosa”, e abre a porta a uma redefinição nesse sentido já para a próxima época desportiva.

Transmissões televisivas também não ajudam

O director de programação da Rádio Lidador crê que, no capítulo da falta de ouvintes, as transmissões televisivas em massa ajudam a tornar o problema ainda mais complicado de resolver. Uma realidade acentuada, na perspectiva de José Freitas, pelo facto de os adeptos do futebol dedicarem menos atenção “aos outros jogos que não envolvam os três maiores clubes do país”.

A opinião é partilhada por Luís Almeida, para quem aumento das transmissões televisivas veio, de facto, complicar o trabalho das rádios regionais, já que “há cinco ou seis jogos da Liga Portuguesa transmitidos na televisão por fim-de-semana. Os meios de comunicação social em Portugal acompanham os grandes clubes e os mais pequenos acabam por ser esquecidos e deixaram de ter grande interesse para os adeptos”, conclui o editor de desporto da R.C.M.