Se o termo «redefinição» parece marcar, cada vez mais, o futuro da programação desportiva das rádios regionais e locais, o mesmo não se verifica nas rádios de âmbito nacional. Pelo menos é o que garantem os responsáveis pela área de desporto de duas das estações que mais tempo dedicam à área: Antena 1 e Rádio Renascença.

Apesar da quebra no investimento publicitário verificada no primeiro trimestre de 2008 no meio rádio (cerca de 33%), ainda não há alarme junto das editorias de desporto das estações nacionais. A é corroborada por Ribeiro Cristóvão, director do Departamento de Desporto da Renascença, para quem a falta de investimento nos segmentos desportivos na rádio é um fenómeno “recente” e “compreensível”, decorrente da crise económica que se faz sentir à escala global.

As transmissões de eventos desportivos (sobretudo jogos de futebol) são as mais afectadas pela quebra, “ainda que apenas ligeiramente”, confirma Ribeiro Cristóvão, destacando ainda que o espaço noticioso ligado ao desporto («Bola Branca») não se mostra beliscado. “Na rádio, como também é natural, tivemos uma quebra, ainda que ligeira, no que toca aos apoios comerciais à nossa programação desportiva. De qualquer forma, sentimos que esse apoio nunca decresceu muito, antes pelo contrário, mesmo em períodos de crise, até aumentou. Onde sentimos (a quebra) é nas transmissões desportivas directas onde realmente aí sentimos uma baixa”, descreve.

A Antena 1, como rádio estatal que é, obrigada ao serviço público, não está sujeita aos ditames do mercado publicitário. Juntando a isto a sua forma de financiamento (decorrente da taxa de radiodifusão, paga pelos contribuintes na factura da electricidade), há espaço e orçamento para mais desporto na antena. Talvez pro isso, até “conseguiu um resultado histórico no que às tardes desportivas de domingo diz respeito”, destaca Fernando Eurico, um dos editores de desporto.

“Tivemos uma média de 90.000 ouvintes a ouvirem as tardes desportivas de domingo, onde não estão os três grandes”, sublinha Fernando Eurico, os resultados com o acompanhamento exaustivo do desporto em Portugal e não somente da modalidade que mais vende: o futebol.

Expressão de ordem: agradar às audiências

Em 2005, a Renascença abandonou o conceito das transmissões directas dos jogos de domingo à tarde da Liga Portuguesa. Ribeiro Cristóvão explica a opção como uma redefinição pontual da programação da Emissora Católica Portuguesa face aos desejos da audiência, “saturada”, admite, “com relatos de jogos que podem bem ser acompanhados com mais detalhe pelas rádios regionais e locais”.

“Entendemos, perante os cenários actuais, que temos que sectorizar as transmissões desportivas. Não faz muito sentido que uma rádio de cariz nacional como a nossa esteja uma tarde inteira a transmitir, com o maior respeito por todos os clubes, um jogo entre o Leixões e o Portimonense. Não faz sentido, porque para isso existem as rádios locais para acompanharem esses fenómenos”, esclarece o director do Departamento de Desporto da Renascença.

O jornalista argumenta ainda com “estudos efectuados pela Marktest junto das audiências” para justificar a falta de necessidade “de estar a ocupar a antena durante horas e horas com jogos que não têm realmente uma dimensão nacional porque perde a antena e perdem, no fundo, os clubes”.

Fernando Eurico e a Antena 1 não se deparam com esse problema, já que o “produto final” que a rádio do Estado tem para oferecer, na área desportiva, não se cinge ao relato, puro e duro, dos jogos de futebol das duas principais ligas portuguesas

“Eu acredito que as pessoas estejam fartas mas, precisamente por haver o esforço da nossa parte em tentarmos retocar o produto que oferecemos às pessoas, vamos sempre conseguir captar audiências. Procuramos fazer das tardes desportivas um espaço por excelência porque as pessoas ainda têm disposição para ouvir e nós procuramos não dar apenas os relatos mas introduzir grandes reportagens, entrevistas, algumas curiosidades e tentar satisfazer um público mais vasto”, afirma, concluindo com uma constatação : “Temos consciência que os relatos que não sejam das equipas chamadas «grandes» já pouco dizem às pessoas”.