É aquela que “cuida”, que “assiste aos partos” e que “sabe” como “despistar situações de risco”. É a que é “mulher, mãe e filha”. Para Elisa Clara, enfermeira de Saúde Materna e Obstétrica e mestre em Bioética, não é difícil definir o seu trabalho. É parteira no Hospital de São João, adepta dos partos naturais e bastante favorável ao trabalho das doulas (ver caixa).

O JPN chegou à fala com Elisa Clara esta terça-feira, em pleno Dia Internacional da Parteira. A enfermeira clarifica, no entanto, que, hoje, a parteira já não “assiste, propriamente, a partos no domicílio”, já que as suas funções se centram mais num ambiente hospitalar.

“Ajudo os casais a fazer a melhor escolha. Quando faço as ‘consultas’ não cobro nada, acho que faz parte exactamente do meu curso, dou toda a informação para ajudar o casal a escolher de acordo com as suas crenças e filosofia de vida”, acrescenta.

Elisa Clara é uma forte defensora do parto natural. As mulheres que o escolhem, diz, “são aquelas que realmente confiam no corpo”. A parteira defende que, se a gravidez decorrer sem nenhuma complicação, o parto natural, até mesmo no domicílio, acarreta menos riscos

“Em casa, a mulher está rodeada de família”, tem mais liberdade de se movimentar, enquanto que “no hospital está um bocadinho ‘presa’ pelas regras porque se, ao fim de determinado tempo, não entrar em trabalho de parto, fala-se em induzir”.

O trabalho das doulas

A doula é uma mulher “sem formação académica”, que “não faz partos”, mas dá “apoio emocional e informativo durante a gravidez, parto e pós-parto”, explica Luísa Condeço, presidente da Associação de Doulas de Portugal (ADP). A doula só presencia os partos, quando acompanha uma enfermeira especializada em Saúde Materna e Obstetrícia. A formação passa por adquirir certas noções básicas de fisiologia e do corpo feminino. Conversas sobre complicações no parto, massagens e técnicas para mudar de posição são algumas das tarefas das doulas. A presidente da ADP salienta que, hoje em dia, muitas mulheres começam a preferir realizar os partos em casa, com a assistência de uma parteira e uma doula, por causa de terem tido “experiências traumáticas num primeiro parto em maternidades”.

Na opinião da parteira, os médicos não valorizam o parto natural. “Os médicos não dizem que são contra os partos naturais, mas estão habituados a prevenir o risco e a lutar contra a morte. Vêem-se um bocado como deuses”, realça, afirmando, até, que “a gravidez é vista como uma doença”.

As parteiras e as doulas

Elisa Clara admite que é das poucas profissionais que sempre aceitou, “sem qualquer relutância”, o trabalho conjunto com doulas. Inicialmente, conta Elisa, havia “uma certa rivalidade”. A enfermeira recorda que algumas colegas diziam que “as doulas estavam a invadir o campo da parteira” apesar de, salienta, serem “coisas completamente diferentes”. Ao contrário das doulas, as parteiras sabem “despistar situações de risco”.

Elisa Clara não consegue explicar o que a levou a optar pela profissão de parteira. Sabe, porém, que se interessa bastante por todos os assuntos que digam respeito à mulher e aos seus direitos.

“Os direitos reprodutivos foram muito esquecidos. Há quem ache que ter um filho é um direito, não sei se é um direito ou não”, questiona Elisa, que até acredita que a gravidez possa ser um acto egoísta, de mera “perpetuação da espécie”.

“O parto também é um fenómeno social, cultural e de certa forma até político porque, quer queiramos quer não, as crianças de hoje vão ser o futuro de amanha”, remata Elisa Clara, tomando como sua a frase “cliché”, mas “verdadeira”.