Para que os pescadores de lampreia possam exercer a sua actividade “livremente”, o PCP vai solicitar a alteração do regulamento de pesca e navegabilidade no rio Douro. Isto porque, desde 2005, altura em que o regulamento foi aplicado, os pescadores estão impedidos de lançar as redes nas zonas de navegabilidade do rio, zonas essas onde a lampreia existe.
“Os pescadores da lampreia estão confrontados com uma situação inaceitável: o regulamento implica que não possam exercer a sua profissão”, afirmou o deputado do PCP, Jorge Machado, em declarações à Agência Lusa. Na opinião do deputado, a “arte secular da pesca da lampreia no rio” está a ser “ameaçada”, facto que leva o PCP a “denunciar a situação e sensibilizar o Governo para que os pescadores de lampreia no Douro possam exercer a sua actividade legalmente”.
Na realidade, a lampreia continua a ser pescada, apesar do cerco apertado por parte da capitania e das multas a que estão sujeitos os pescadores. Rolando Dias, pescador há 45 anos, assume ao JPN que desafia as leis impostas, pois tem que “sobreviver”.
“Nós parecemos ladrões que andamos a fugir da polícia. Mas não somos ladrões, andamos a trabalhar”, diz o pescador da Afurada, um dos 150 que o PCP considera estarem a ser prejudicados pelo actual enquadramento legal. Rolando não se mostra, contudo, muito “convicto” quanto a uma possível alteração da lei.
O PCP sustenta que “o regulamento actual torna incompatível a pesca e a actividade turística”, acrecentando que “nunca houve problemas entre os barcos de recreio e os barcos de pesca à lampreia”.
Também para os pescadores da Afurada, em Vila Nova de Gaia, a navegação dos barcos não é impedida pela actividade piscatória. Ramiro Lapa, homem do mar há 50 anos, declara que esta proposta “não vai alterar nada”, até porque, segundo diz, “qualquer pescador que esteja a pescar sabe que vem um barco a navegar e que tem que colher as redes”.
Lampreia “com muita procura”
A opinião é unâmine entre os pescadores da Afurada ouvidos pelo JPN: “A pesca é proibida, mas faz-se”. Por isso, concordam que a regulamentação seja modificada. António Joaquim trabalha neste ofício há 27 anos e concorda que “deviam abrir o canal a toda a pesca”. Apesar de não pescar lampreia, António critica a lei actual, pois “a pesca faz-se à noite e à noite não há barcos a passar”, afirma.
A este impedimento, os pescadores juntam a escassez de lampreia e sável desde que a barragem de Crestuma foi construída. Maria Teixeira, vendedora de peixe, afirma que ainda assim “a lampreia vai dando”, sendo um peixe com muita procura. “Este ano começou a 30 euros, acabou a 10”, justifica.
Também Domingos, proprietário de um restaurante na zona, afirma que a lampreia “tem muita saída”, sobretudo nos meses em que é pescada (entre Janeiro e Abril).