Peregrinos à força ou por força de vontade, hoje em dia são poucos os jovens que vão a Fátima a pé. Por diversão, fé ou pela experiência, estes novos romeiros integram grupos com pessoas bem mais velhas, encaradas como uma fonte de experiência e de energia para a caminhada.
Sónia Oliveira, de 22 anos, já caminhou até Fátima. “Pela experiência, pela fé e pelo conhecimento da peregrinação”, justifica. Apesar de só o ter feito uma vez, a jovem destaca a experiência da fé como um dos maiores proveitos a retirar desta vivência. “Dá para ver de tudo nesta caminhada”, diz a jovem de Anadia.
Já Sara Ratola já fez o caminho duas vezes, ambas para cumprir uma promessa. No entanto, nem por isso o caminho foi mais difícil de suportar. “Tinha a minha motivação pessoal e depois tinha as pessoas que foram comigo e todas aquelas que vamos encontrando pelo caminho”, conta a arquitecta paisagista de 25 anos.
Nenhuma das jovens se sentiu discriminada no seu grupo de amigos. Mais, ambas afirmam que os seus colegas reagem com surpresa quando elas revelam que já fizeram o caminho até Fátima a pé. “Até acham piada e também sentem vontade”, salienta Sara Ratola.
Auto-conhecimento e descoberta dos limites pessoais
Os peregrinos jovens não sentem qualquer diferença ao caminhar lado a lado com os caminhantes mais velhos. Sónia Oliveira defende, no entanto, que os jovens têm um “espírito mais aberto” para este tipo de actividades. “Preocupamo-nos menos se nos dói alguma coisa, se está a custar ou não”, admite.
Já Sara Ratola sublinha que as pessoas mais velhas que se encontravam no seu grupo acabaram por ser uma fonte de energia extra.
“Cada vez que me sentia cansada, olhava para o lado e havia pessoas quase a desmaiar e continuavam sempre”, relata. O auto-conhecimento e a descoberta dos limites pessoais de cada um são algo que, para Sara Ratola, os peregrinos levam para a vida.
Filipa Pereira, da Pousada da Juventude de Porto de Mós, conta que, nos últimos dias, a residência recebeu mais gente por causa da peregrinação a Fátima. Os jovens chegam integrados em grupos com pessoas de todas as idades e muitos apresentam grandes mazelas físicas. “Reparámos que quase toda a gente chega aqui a mancar. Novos e velhos”, disse, ao JPN, a responsável pela Pousada.
O JPN tentou falar com o Santuário de Fátima para tentar perceber que força têm os jovens naquele que é o maior local de peregrinação português, mas não obteve qualquer resposta.