Apesar de ninguém “saber muito bem onde o jornalismo vai parar” numa altura em que “a cultura vive uma situação de crise”, Sérgio C. Andrade acredita que “há muita coisa que se pode fazer”. “Algo de novo e interessante pode nascer desta indefinição”, projectou o jornalista e ex-editor de cultura do Público, esta terça-feira, em conferência no curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto.

Ao olhar para os exemplos de novos jornais ou de jornais que sofreram reformulações, o jornalista afirma que a cultura “continua a perder muito espaço” e que sofre muitas vezes alterações na designação enquanto editoria. Sérgio C. Andrade afirma que, com estas reconversões, a aposta no conteúdo “é mais orientada para as tendências, viagens, recomendações de livros ou filmes”, mudança essa que classifica de “perda cultural.”

Da imprensa para a televisão, o jornalista cita o exemplo de conteúdos que, quando ligados à cultura, “surgem cada vez mais afastados do horário prime time“.

Dentro dos novos jornais, Sérgio C. Andrade dá como exemplo o novo “i”, diário que faz algumas inovações “preocupantes” ao nível da divisão em secções A, B, C e D – um “distanciamento da divisão tradicional em editorias”, admite o jornalista que, nas primeiras edições do “i”, apenas viu “uma ou duas notícias, mais as breves, de cultura”.

O jornalista alerta para “a ideia de não se ocupar tempo ao leitor”, sustentada pelo ritmo de vida acelerado dos tempos actuais. Defende, no entanto, que “isso não significa que as pessoas não sintam necessidade, em certos momentos, de uma leitura mais pausada, com artigos mais desenvolvidos e explicativos”.

“O país está cada vez mais centralista”

No final da sessão, houve tempo para uma conversa mais informal com a audiência, constituída na sua maioria por estudantes do Mestrado em Ciências da Comunicação.

Questionado acerca do estado da cultura no Porto, Sérgio C. Andrade afirmou que “o país está cada vez mais centralista” e que “a diferenciação em relação a Lisboa já foi muito mais forte do que é hoje”, referindo-se ainda a uma “ressaca cultural” pós- Porto 2001.

No entanto, a conversa também chegou aos novos movimentos e circuitos culturais da cidade, de dimensões mais reduzidas e que passam essencialmente por bares ou outros espaços de intervenção cultural mais orientados. O jornalista concorda que “algo de novo tem vindo a acontecer” e congratula “o papel da sociedade civil e dos jovens em particular”.