“Não é suficiente convidar as pessoas para falar. Estou aqui numa casa que não pratica o comércio justo”. Foi num tom crítico que Miguel Pinto, primeiro voluntário do movimento em Portugal, deu o mote para a conferência que levou, esta quarta-feira, o tema do consumo responsável à Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP).

Acompanhado por Ana Luísa Coelho, também ela activista do Comércio Justo, Miguel Pinto traçou um retrato bastante negativo sobre a situação do movimento em Portugal. “Enquanto que na Europa, o Comércio Justo tem vindo a crescer, aqui a tendência é decrescente”, principalmente por causa de uma “falta de ONGs com capital para investir na iniciativa”, detecta Miguel Pinto.

Para o voluntário e fundador da associação Reviravolta, o problema principal do comércio justo assenta na falta de influência: “Não temos lobby, não há leis que obrigam as instituições a utilizar o comércio justo” e “não existem em Portugal muitas ONGs” com “capital para investir” no projecto. Razões que, para Miguel Pinto, explicam a “tendência decrescente” do comércio justo que, no Porto, se reflectiu no recente encerramento de uma loja na Rua de Cedofeita.

O Comércio Justo

Existente na Europa há 50 anos, o Comércio Justo é uma forma alternativa de distribuição e comercialização de mercadorias. Definindo o termo, Miguel Pinto afirma que o Comércio Justo envolve “dialogar com o produtor de modo a pagar-lhe de forma justa”, o que envolve “pagar mais” e optar pelo “pré-financiamento”. O Comércio Justo procura também criar “relações de longa duração” e fomentar a “sustentabilidade ambiental”.

Tanto Miguel Pinto como Ana Luísa Coelho enfatizaram o trabalho feito com escolas, a nível de sensibilização para a questão do comércio justo e sustentável. Contudo, o activista notou que “está na moda” convidar activistas para leccionar sobre o Comércio Justo, mas que “sem a parte comercial” a iniciativa está numa “situação difícil”.

“Podemos explicar às crianças que vale a pena optarem pelo comércio justo, mas se depois não têm onde comprar, acaba por ser uma actividade um pouco oca”, completou Ana Luísa Coelho, parceira na coordenação da Rede Nacional do Consumo Responsável. No entanto, ambos os convidados clarificaram que não vão desistir da actividade.

Miguel Pinto lamentou ainda a falta de “cultura de voluntariado” em Portugal. “É preciso uma certa revolta responsável, porque as empresas são cordeirinhos. Se o público optar pelo comércio justo, vão atrás”, refere o activista.

Inserida no I Ciclo de conferências sobre consumo responsável promovido pela FLUP e pela Universidade Católica Portuguesa , a sessão desta quarta-feira incluiu ainda a de venda vários produtos de Comércio Justo. Depois da reunião, o público foi convidado a experimentar “café, chá e compotas” gratuitamente.

A próxima e última conferência do ciclo vai acontecer na próxima quarta-feira, às 17h30, na Universidade Católica Portuguesa. O eco-consumo e a mobilidade sustentável serão os temas em debate.