Já muito se disse acerca do “i”, o novo diário que chegou às bancas na passada-quinta feira. Se, na rua, alguns vendedores não se cansam de repetir que é uma “má altura” para lançar um novo projecto ou que o “público não se identifica com os conteúdos apresentados”, o mesmo não se ouve da boca de André Macedo, director-adjunto do novo diário.

“A opinião que temos recebido dos leitores e até de outras pessoas que trabalham com os media é positiva, dizem que é um produto bem conseguido”, explica. O responsável não exclui, no entanto, o facto de que “existem ainda coisas a melhorar”, algo que acabara por “acontecer ao longo deste ano e dos próximos”. André Macedo salienta, no entanto, que os números nesta fase não são muito relevantes.

O nome do jornal também é uma questão recorrente. O director-adjunto esclarece que, depois de avaliados “mais de dez nomes e feitos testes de mercado”, o nome “i” “surgiu por acaso. Tem a “vantagem de fácil memorização”, sublinha, o que pode ser uma mais-valia para o jornal “se afirmar” no tempo.

O nome e a estrutura do jornal são pontos essenciais para que o novo diário se destaque da restante imprensa. A aposta numa “organização diferente, sem as secções tradicionais de economia, sociedade, entre outras” persegue o objectivo de “responder aos desafios que a actualidade coloca”,
salienta André Macedo.

Para além das secções, Radar e Zoom, o jornal tem “outra secção, que se chama Mais“, que inclui “cultura, espectáculos, tendências e desporto”.

“Os jornalistas não são os únicos a olhar para a realidade”

No site do “i” há uma secção dedicada ao jornalismo do cidadão, o iRepórter. André Macedo justifica a criação deste espaço: “As pessoas têm opiniões, os jornalistas não são os únicos a olhar para a realidade.”

A ideia é “dar a voz ao cidadão”, uma tendência que, diz André Macedo, “tem vindo a crescer de há dois anos para cá”. A diferença é se está a “criar um espaço, a dar uma dignidade, e mostrar que o ‘ionline’ e o ‘i’ em papel não pretendem ser realidades fechadas”.

No que toca aos suplementos, o “i” aposta num “de reportagem, exclusivo do New York Times e da Variety” e numa revista “generalista e monotemática”, editada por Pedro Rolo Duarte e com “um período de vida limitado” de 50 números. André Macedo explica que ter mais suplementos “não faz sentido”, recorrendo a exemplos de outros jornais.

O “i” “pode ter os dias contados”

Nos quiosques visitados pelo JPN, as diferentes vozes convergem numa ideia: o jornal “esgotou no primeiro dia” e, depois, “o factor curiosidade deixou de existir e a procura diminuiu”. Na Tabacaria Invicta, o jornal é procurado “essencialmente por pessoas de classe média/alta”. O mesmo acontece na Kiao, onde “o jornal foi comprado por quem costuma também comprar o Público”.

Ana e António Henrique, proprietários do Quiosque Boa Sorte, dizem que a escolha do nome “i” “não foi muito feliz”. “As pessoas a pedirem o jornal até parece que falam francês”, graceja António.

No entanto, para o casal a preocupação é outra: “Com tanto gratuito que anda por aí, qualquer jornal que seja a pagar perde logo pontos e, se isso afecta os antigos, o que fará aos novos”, questiona António. O proprietário diz que esta é uma “má altura” para se lançar um jornal, e que este “pode ter os dias contados”.