Peito pequeno, barriga grande, pele pouco firme. Cada vez mais os portugueses encontram defeitos na imagem que o espelho lhes devolve todos os dias, e as cirurgias estéticas são uma forma de corrigir o corpo que se torna popular.
Durante a meia-idade, “quando se começam a notar os efeitos do tempo”, crescem as visitas a médicos como José Amarante. Para o director do Serviço de Cirurgia Plástica, Reconstrutiva e Estética da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), “melhorar a aparência e a auto-estima” das pessoas é, cada vez mais, uma função da cirurgia plástica.
José Amarante aponta a aprovação da Igreja Católica como uma das razões que explicam o aumento progressivo da procura de cirurgias estéticas, que já não são motivo de vergonha. “Até aos anos 50, a Igreja via a cirurgia estética como pecaminosa e contra-natural. Agora, a cirurgia já não é pecado porque o homem é obra de Deus, e quando o cirurgião plástico recupera o homem está a restaurar a obra de Deus”, lembra.
Sem dúvidas de fé, Olga Paranhos fez há dois anos uma abdominoplastia “para tirar a gordura que estava a mais” na barriga, mesmo reconhecendo que “para a saúde não era necessário”. Uma semana bastou para tomar a decisão e fazer a cirurgia. Pesquisou na Internet, pediu opiniões e escolheu o médico que mais confiança lhe transmitiu.
De pouco tempo precisou também Lídia Sousa para seguir o conselho do médico e fazer uma rinoplastia. O objectivo era “melhorar a qualidade de vida”, mas o pós-operatório, que “não foi dos melhores”, veio mostrar que nem tudo são rosas. É possível que a cirurgia tenha de ser repetida, mas Lídia garante que só a faz “por necessidade”.
Certo é que as decisões não devem ser tomadas de ânimo leve. José Amarante pede “bom senso” a quem procura o bisturi e avisa que a cirurgia estética “tem cortes, não é como ir ao cabeleireiro”. “Há médicos que se dizem cirurgiões plásticos e não o são, e cabe às pessoas informarem-se junto da Ordem dos Médicos” sobre a credenciação dos profissionais, defende.
Franscisco Falcão Melo, cirurgião plástico, diz que todas as cirurgias têm riscos e por isso “é preciso ter bom senso” da parte do médico, que deve informar o doente dos riscos que corre ao deitar-se na mesa de operações. “Nós nunca deixamos de ser médicos, não somos meros executantes”, defende.
Cirurgias em jovens “só se forem justificadas”
A intervenção estética em jovens, por vezes menores de idade, tem sido debatida nos últimos tempos. Para José Amarante, estas cirurgias “têm de ser muito mais ponderadas do que num adulto”.
Ponderação que Érica Vilarinho garante ter tido. Aos 25 anos, a estudante de comunicação aumentou o peito há poucos meses, “por uma questão de auto-estima [Vídeo]”, mas sem esquecer os limites do seu próprio corpo. “Nunca quis ter mamas grandes e aparecer na ‘Playboy'”, remata.
Francisco Falcão Melo não vê a idade como obstáculo. “A cirurgia plástica para corrigir uma malformação congénita faz todo o sentido desde o nascimento”, defende o cirurgião. “Não vamos deixar um rapaz viver com um aumento de volume mamário e passar pelo gozo dos colegas para ficar à espera que chegue aos dezoito anos, porque é mais traumático ficar com isso do que ser tratado”, explica.
De qualquer maneira, Falcão Melo lembra que é importante o jovem “ter maturidade emocional e intelectual para perceber aquilo a que se vai submeter”.