João Bénard da Costa faleceu, esta quinta-feira, aos 74 anos, vítima de cancro. De acordo com a agência Lusa, o funeral realiza-se na tarde de sexta-feira, no Cemitério dos Olivais, em Lisboa.

Nascido em 1935, Bénard da Costa esteve sempre intimamente ligado ao cinema, em particular à Cinemateca Portuguesa, da qual era director desde 1991. O seu percurso passou pela Fundação Calouste Gulbenkian, onde dirigiu o sector de Cinema do serviço de Belas-Artes. Presidia, ainda, à Comissão Organizadora das Comemorações do Dia do Portugal.

Na Sétima Arte, participou, como actor, em filmes de Manoel de Oliveira e João César Monteiro, sob o pseudónimo Duarte de Almeida. Ganhou o prémio Pessoa e, em 2008, foi condecorado pelo ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, com a medalha de mérito cultural.

Homem “imensamente culto”, “controverso”, de “certezas inabalável”, que “escrevia extraordinariamente bem”, é assim que o professor Jorge Campos caracteriza esta “figura incontornável do cinema português”. Além de ser reconhecido como um defensor incansável do cinema português, João Bénard da Costa era considerado por muitos como um “déspota iluminado”, comenta o especialista em cinema.

Revelava, a cada passo, um “amor imenso ao cinema como arte”, destaca Antónia Fonseca, responsável pelo gabinete de relações públicas da Cinemateca Portuguesa. Algo bem visível na “imensa” obra escrita que deixa como legado, sempre enquadrada numa “forma completamente apaixonada e criativa de ver uma obra de arte”.

Filipe Melo, jovem realizador português, concorda com Antónia Fonseca ao dizer que o maior legado que João Bénard da Costa deixa é a “paixão pelo cinema”. Acrescenta ainda que o ex-director da Cinemateca Portuguesa teve um papel muito importante na “divulgação e na educação cinematográfica no país”.

Para Nuno Montenegro, representante do Circuito de Cinema na Universidade, Bénard da Costa foi uma figura importante na cultura portuguesa, não só pela sua escrita e gosto pelo cinema, mas também por ser um “formador de cinéfilos”, que gostava de partilhar os seus conhecimentos.

De escritor a cinéfilo

Ocupar o lugar do director da Cinemateca Portuguesa vai ser “dificílimo”, confessa Antónia Fonseca. “As grandes personalidades deixam sempre um vazio muito grande, mas por outro lado também deixam obra feita”, acrescenta Antónia Fonseca.

“Personalidade incontornável” do mudo do cinema, João Bénard da Costa fez-se notar pela sua escrita desde cedo com textos dedicados, por exemplo, aos realizadores italianos Rossellini e Pasolini. Não era, por isso, um crítico de cinema, mas sim um escritor, continua Antónia Fonseca. “Ler textos dele sobre cinema era a mesma coisa que estar a ler um grande romance de um grande escritor”.

Filipe Melo vê em João Bénard da Costa um divulgador do cinema que, realça, preparou bem o terreno “para que uma nova geração ocupe o lugar” que deixa vago. “De certeza que ficará feliz quando alguém o fizer”, afirna.

A cinemateca pretende zelar por aquilo que João Bénard da Costa fez enquanto director. Segundo Antónia Fonseca, a instituição vai continuar a “mostrar não só a história do cinema, mas também cinematografias que não são vistas em Portugal”. Para Nuno Montenegro a melhor forma de celebrar os feitos de João Bénard da costa é “continuar a ver gostar de cinema”.