Apesar de a última jornada dos campeonatos profissionais de futebol em Portugal, no último fim-de-semana, ter consumado a queda do histórico Boavista e do Gondomar na II Divisão, o Norte do país continua a predominar nos quadros competitivos da Liga Portuguesa e da Liga de Honra.

Sobretudo, o distrito do Porto colocará, na época 2009/2010, oito equipas nos campeonatos profissionais, não obstante a descida de «axadrezados» e gondomarenses, o que demonstra aquilo que Lourenço Pinto, presidente da Associação de Futebol do Porto (AFP), de “competitividade” e “mérito” dos emblemas situados mais a norte, até pelo contexto socio-económico da região.

“A partir de 1975, houve alterações socio-económicas e políticas em Portugal e que vieram modificar profundamente todo o tecido desportivo no norte de Portugal, onde há uma grande fatia das empresas de prestação de serviços e uma enorme densidade populacional. Como consequência de todo este aparelho industrial, económico e populacional, desenvolveu-se fortemente o desporto”, explica o líder da maior associação de futebol do país, justificando “a ascensão às categorias profissionais de futebol de muitos clubes do norte”.

O tetra-campeão nacional FC Porto, Leixões, Paços de Ferreira e Rio Ave (Liga Portuguesa), Varzim, Freamunde, Trofense e Desportivo das Aves (Liga de Honra) são os oito clubes que vão representar a AFP nos escalões profissionais na próxima época. Apesar da presença em massa de clubes da associação nos principais palcos do futebol nacional, Lourenço Pinto expressa alguma apreensão face ao actual contexto de dificuldades financeiras que atingem, também, o desporto.

“Temos assistido, ao longo do tempo, a boas e más ocasiões para o desporto, mas na maioria dos casos tudo tem sido ultrapassado com a maior ou menor dificuldade. Vivemos numa sociedade que hoje luta com muitas dificuldades, a nossa crise é grave e abrange sectores como a indústria e a economia, entre outros, e temos todos que lutar para que o desporto vença esta crise”, relembra Lourenço Pinto.

Postura menos optimista é a de Bernardino Barros: “Os clubes mais a norte vão atravessar enormes problemas” refere o comentador desportivo, destacando que “a crise que se implementa no país reflecte-se ao nível dos clubes porque todos eles vivem ou dos apoios camarários que ainda existem ou do tecido empresarial das várias localidades. Como também há crise nesses sectores, deixam-se de dar esses subsídios e esses apoios e é normal que esses clubes alicerçados no Norte do país, também sintam dificuldades”.

Bessa: Um estádio municipal para as equipas do Porto?

Nos últimos dias, tem sido avançada por vários blogues e fóruns online a possibilidade de a Câmara Municipal do Porto vir a adquirir o Estádio do Bessa, ajudando o Boavista a saldar grande parte das suas dívidas e redefinindo o complexo para uso comum de mais emblemas da cidade sem estádio próprio (casos do Salgueiros e do Ramaldense). Uma hipótese que seria “salutar”, nas palavras do presidente da AFP: “Se porventura, alguma instituição, quer seja do Estado ou de alguma autarquia, fizer esforços no sentido de salvar todo e qualquer clube, neste caso, o Boavista, isso seria salutar. Mas isso contém várias nuances jurídicas”, conclui Lourenço Pinto.

“Descida do Boavista não é dado adquirido”

Com processos pendentes tanto no Tribunal Administrativo do Porto como na própria Comissão Disciplinar (CD) da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), o Boavista culminou uma época negra com a queda inédita nos escalões secundários do futebol português. Isto depois da descida dos «axadrezados» à Liga de Honra, na sequência do polémico processo “Apito Final”.

Lourenço Pinto não encara, porém, a descida dos boavisteiros como “um dado adquirido”.”O Boavista ainda tem pendente um recurso próprio no Tribunal Administrativo do Porto, para além de que ainda decorrem alguns processos na CD da LPFP e cujo desfecho pode alterar os quadros competitivos. Nessa matéria, há que esperar algum tempo para que se atinja um cenário definitivo”, sublinha o dirigente.

Dentro de campo, o caso da descida do Boavista é “normal”, afirma Bernardino Barros, “porque (o Boavista) não construiu uma equipa competitiva com todos os problemas financeiros” decorrentes da “gestão anterior de João Loureiro”, . O comentador conclui com a ideia de que “a falta de dinheiro pode dificultar o regresso, em pouco tempo, aos principais campeonatos”.