Depois do acidente de domingo que, em plena euforia da festa do Senhor de Matosinhos, feriu oito pessoas, deixando duas delas em estado grave, a União das Empresas de Diversões convocou, para esta manhã, uma concentração no recinto da festa.

“É um desabafo”, confessa Paulo Deus, presidente da União das Empresas de Diversões, ao iniciar a conversa com a comunicação social e com o público. Em poucas palavras, traça o objectivo da concentração: “que o público em geral ajude e que nos encoraje, como tem encorajado, a não desistirmos.” Um propósito que se estende ainda aos “autarcas e a órgãos de Estado”, para que “apliquem a lei e criem os organismos, assumindo as suas responsabilidades”.

Lei de vistorias

Um projecto de lei de 2002 estipulava a criação de um organismo que garantisse a vistoria dos equipamentos de diversão das Câmaras Municipais, através do Instituto Português de Qualidade. No entanto, desde essa data que o organismo regulador está por definir e cabe apenas às autarquias fazer a vistoria, que nem sempre dispõem de técnicos qualificados para fazer essa avaliação. Em declarações à TSF, comentando o acidente, o presidente da Câmara de Matosinhos, Guilherme Pinto, frisou, porém, que às autarquias compete, apenas, verificar as licenças e não fiscalizar.

Paulo Deus não cansa de dizer que não tem havido incumprimentos nos procedimentos de segurança, nomeadamente nas vistorias. “Nós temos tudo o que nos pedem e está na lei, desde o termo de responsabilidade de um engenheiro electrotécnico e de um engenheiro mecânico, os seguros todos… só não temos aquele certificado de inspecção”, explica Paulo Deus.

“Mas”, acrescenta, “não somos nós que estamos a ser negligentes”. “É o Estado, porque não criou o organismo que decidiu que ia ser creditado pelo Instituto Português da Qualidade (IPQ) e que está depende do Ministério da Economia”, declarou Paulo Deus, referindo-se ao projecto de 2002, que tencionava criar uma entidade estatal que assegurasse a fiscalização dos divertimentos. (ver caixa)

“Em caso de acidente, a culpa devia ser imputada ao IPQ, mas como o tal organismo não foi criado, essa culpa, primeiro de tudo, é resultado da negligência do Estado”, acusa ainda Paulo Deus.

Acidente no Carossel do Gelo deu origem à concentração

António Henriques, dono do carrossel onde aconteceu o acidente no passado domingo que provocou oito feridos, também rejeita qualquer responsabilidade no sucedido. Em declarações ao JPN, assegurou que “o acidente era imprevisível”, porque “nem com raios-x” poderiam detectar algum problema no “sítio que partiu” [uma zona de um tubo que não tinha soldas]. “Até o seguro disse isso”, salienta o proprietário.

Apesar do susto, alguns dos visitantes do senhor do Matosinhos afirmam continuar a andar nos carrosséis sem qualquer receio. É o caso de Patrícia Teixeira, Rui Campelo e Fábio Carvalho, de idades compreendidas entre os 11 e 15 anos.

“Acho que é seguro. Podia acontecer em qualquer carrossel. Se deixasse de andar no Gelo, deixava de andar em todos”, conclui Patrícia. No entanto, pensam que a maioria dos colegas deixou de andar no carrossel em que se deu o acidente, continuando a frequentar as restantes diversões.