Poucos não deverão conhecer Bruno Aleixo, o rabugento cão e ex-ewok que tem causado sensação, primeiro, através de série de vídeos na Internet e, depois, com um programa de sucesso na SIC Radical. Mas “O Programa do Aleixo” é apenas o produto de maior sucesso do trio composto por João Moreira, João Pombeiro e Pedro Santo, conhecidos colectivamente como GANA (Guionistas e Argumentistas Não Alinhados.)

Enquanto não se confirma a data do regresso de Bruno Aleixo à televisão, o grosso da produção dos GANA continua a passar pela Internet, mais especificamente pelo seu canal no Sapo. Neste, não só é possível acompanhar aventuras extra do Aleixo e dos seus comparsas (como a série “Busto no Emprego”, ou o “blog Erasmus” do Renato), mas também rubricas novas como a “Enciclopédia Não Alinhada” e as críticas de cinema do “Cine Limpo”.

Estando o trio espalhado “entre Lisboa e Coimbra”, a aproximação ao grupo condiz bem com a estética de kitsch político para o qual o próprio nome remete. Enviam-se as perguntas por e-mail, recebem-se respostas decididas e revistas em comité.

JPN: Antes de mais nada: O Programa Do Aleixo vai voltar à SIC Radical? Quando?

GANA: O Programa do Aleixo vai voltar, mas ainda não sabemos a data exacta, nem se será, ou não, na SIC Radical.

E que novidades podemos esperar da eventual segunda temporada?

Como não é nosso intento fazer mais do mesmo, podemos adiantar que renovaremos algumas das rubricas e personagens. Mais não podemos avançar, até porque nem sabemos ao certo, uma vez que só agora vamos começar a escrever.

Uma característica da vossa obra é que há uma continuidade muito sofisticada: personagens mencionadas ao de leve num episódio tornam-se protagonistas noutro, running gags são recuperadas e recicladas. Há alguma fonte de inspiração em especial para esse modelo?

Cremos que não, faz parte da relação que temos com as personagens. O que é mencionado ao de leve num episódio, é ligeiramente assimilado pelo público mas é extremamente assimilado por nós, que vivemos muito próximo das personagens e dos guiões. À medida que o processo criativo avança, começa a fazer sentido ir buscar essas pequenas referências. Torna o universo mais credível e coeso. E, achamos, mais interessante também.

O sucesso do Aleixo, tem-se reflectido nos conteúdos online? Há o mesmo nível de audiências?

Acaba por haver, sim. Nós produzimos os vídeos para um canal do Sapo, mas alguém acaba por pegar neles e colocar no Youtube, que chega a mais gente e tem muito mais visionamentos. É pena, porque o Sapo é o nosso canal oficial e os vídeos lá têm muito melhor qualidade.

Trabalham de forma diferente para a televisão e o online? Há uma maior pressão para ser acessível na TV?

O formato televisivo exige maior cuidado que a Internet, nomeadamente na qualidade de imagem e na gravação do som. Já a nível de guião, os cuidados são semelhantes.

Ficaram surpreendidos com o sucesso internacional do Aleixo? Tiveram uma menção no blogue americano Kotaku, têm uma audiência de culto no Brasil, etc.

Muito. Nunca pensámos que a barreira do português de Portugal, tão fechado para os brasileiros, fosse transposta. Há a questão de, ao que sabemos, o primeiro contacto com o programa se ter dado com uma rubrica com bastantes referências globais para quem era garoto no final dos anos 80 e inícios de 90. O primeiro interesse e vontade de explorar poderá ter vindo daí, dessas referências comuns. Há também a questão de eles adorarem fazer piadas com portugueses. A questão do sotaque, também. Talvez o interesse tenha vindo de uma destas coisas, ou de todas em simultâneo, não sabemos bem, nem nunca pensámos minimamente o programa como algo capaz de conseguir esse nível de alcance…

De quem é que gostam a nível de comédia portuguesa?

Neste momento? Sinceramente ninguém nos fascina por aí além. Mas antigamente havia séries muito boas, como “Duarte e Companhia”, que, no seu género bem específico, quase não tiveram ou têm rival.

Desde Sonny Chiba e o Lone Ranger até ao Keyboard Cat, os vossos vídeos estão recheados de referências pop-culturais mais ou menos obscuras. Em regra geral como são escolhidas? É só pelo valor cómico ou são coisas de que são também fãs?

Não, geralmente são coisas de que gostamos e que vamos conhecendo aos poucos. Depois, não resistimos a referi-las nos vídeos. É mais uma tentação na qual caímos.

“Imitar a voz do Aleixo” já é tão cliché como recitar rábulas dos Gato Fedorento ou dos Monty Python. Como têm lidado com isso?

Bem. O Moreira pior, porque sempre que abre a boca está a falar como o Aleixo. A voz dele é mesmo assim, embora leve um filtro para ficar mais aguda. Mas todos lidamos bem, é um bom sinal de reconhecimento para quem cria.