Aos 51 anos, Miguel Portas prepara-se para o segundo mandato enquanto eurodeputado. Em 2004, o economista e jornalista foi eleito pelo Bloco de Esquerda (BE) com 5,1% dos votos. No Parlamento Europeu foi membro efectivo da Comissão para a Cultura, integrando, actualmente, a Comissão para o Desenvolvimento. Com a sua “perspectiva europeísta de esquerda”, Miguel Portas espera conseguir pelo menos mais um eurodeputado para o BE nestas eleições.

Quais são os objectivos a alcançar em caso de vitória nas Eleições Europeias de 7 de Junho?

O Bloco há dez anos teve 1,5% de votos e 5% há cinco anos. Agora queremos ter mais votos, mais percentagem e pelo menos mais um eurodeputado.

De que forma é que Portugal pode reforçar o seu papel junto das esferas da União Europeia?

Deixando de ter a política de mão estendida que tem praticado. Nós precisamos de um projecto europeu muito mais solidário e não assente na pura e simples negociação e regateio de dinheiros entre governos, que é o que tem vindo a acontecer. Isto impede a Europa de estar à altura das necessidades desde que entramos em crise.

O que é que diferencia a sua candidatura da dos restantes candidatos?

Eu creio que é uma perspectiva europeísta de esquerda. Estamos convencidos que quem nos meteu na crise não nos vai tirar da crise. Não basta mudar de políticas, é preciso mudar de políticos. Só sairemos da crise de uma de duas formas: ou com uma Europa e um país ainda mais injustos, porque quem vai acabar por pagar a crise é quem a está a pagar, é quem perde o seu emprego e os jovens que não conseguem encontrar outra coisa que não trabalhos precários; ou então nós temos a coragem de introduzir princípios de justiça na economia e vamos buscar o dinheiro onde ele existe – aos paraísos fiscais e às operações de compra e venda de títulos e produtos financeiros nas bolsas.

Um ano depois da implementação do Tratado de Bolonha, que balanço faz desta nova etapa do Ensino Superior em Portugal?

Quando eu era estudante universitário a universidade era para ricos e era gratuita. Agora que a universidade é muito mais apetecível aos filhos das famílias de menores rendimentos, ela é cara no primeiro ciclo e caríssima no segundo ciclo. Isto é um absurdo. Ou seja, as promessas de Bolonha foram traídas pela realidade da “mercadorização” do ensino superior e por se ter transformado o ensino numa mercadoria cara. Isto é simplesmente impensável porque é uma regressão ao século XIX.

Então acha que o Tratado de Bolonha não foi bem implementado?

Não é um problema de ser bem implementado ou não. As intenções que foram colocadas no processo de Bolonha eram generosas. Mas, na realidade, o que estava por detrás do processo de Bolonha é o sub-financiamento público do ensino superior e a ideia de que os pobres devem pagar os estudos. Isto já não acontecia no século XX, é simplesmente inadmissível. É um regresso ao tempo da pedra lascada. O que eu digo aos jovens é “Levantem-se, lutem e mexam-se” porque, se não o fizerem, não só não terão trabalho com direitos, como não conseguirão concluir os seus estudos (os que são mais pobres). E, ainda por cima, o que prometem para o futuro é que, quando chegarem à primeira pensão, depois do último salário, ela ficar a valer metade do salário.

O que é que o leva a candidatar-se, tendo em conta a postura algo crítica do Bloco de Esquerda em relação à Europa?

A posição do Bloco não é algo crítica em relação à Europa. Nós somos europeístas e o que criticamos na Europa que temos é o facto de ela ter de menos no que devia ter de mais – uma Europa social, uma Europa capaz de apoiar as boas práticas educativas – e que ela tenha a mais o que bem podia ter de menos – hiper-regulamentação dos mercados, por exemplo.

O que é ser europeu?

O que significa para mim ser europeu é dar condições de vida e de dignidade a todos os europeus, a começar pela “geração Europa”, a geração daqueles que já nasceram no tempo da União Europeia, que agora vão votar pela primeira vez e a quem estão a ser roubados o presente e o futuro.