Deputada em Bruxelas desde 1999, Ilda Figueiredo prepara-se para mais um mandato no Parlamento Europeu. Aos 60 anos, a cabeça de lista da CDU às eleições de 7 de Junho exerce, ainda, o cargo de vereadora na Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia. É também vice-presidente do Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica e da Comissão de Emprego e Assuntos Sociais.

O que ainda lhe falta alcançar como deputada europeia?

A luta pela defesa dos interesses portugueses e pelos direitos de quem trabalha, pela produção nacional e pelos direitos das mulheres é uma luta constante. Não pára com umas eleições. Eu sou novamente candidata porque o meu partido e a CDU me convidaram para voltar a assumir as funções de deputada no Parlamento Europeu. Aceitei porque esta luta está longe de ter terminado. E, se a população portuguesa confiar na CDU, nas lutas que fazemos contra as injustiças sociais e pela defesa do emprego com direitos e de uma Europa de paz, de cooperação, de progresso social, naturalmente que é essa a actividade que continuarei a defender com a mesma firmeza, determinação e coragem que me conhecem.

Tendo em conta a corrente situação económica europeia, que medidas pretende ver aplicadas na economia a nível europeu?

Defendo uma ruptura com a actual política neoliberal da União Europeia porque só com uma política diferente é possível evitar as crises que estamos a viver. E, por isso, nós dizemos que é fundamental acabar com as liberalizações. É fundamental defender a produção. É fundamental acabar com o Pacto de Estabilidade e a estratégia de Lisboa e aprovar o verdadeiro pacto, o programa de desenvolvimento económico e social que permita dar prioridade a três áreas básicas: a defesa da produção, a criação de emprego com direitos e o combate às desigualdades sociais através do funcionamento adequado dos serviços públicos, de melhores salários, de melhor redistribuição de riqueza, incluindo a melhoria das pensões e reformas e valorizando os salários de quem trabalha.

“Defendo uma ruptura com a actual política neoliberal da União Europeia”

De que forma é que Portugal pode reforçar o seu papel junto das esferas da União Europeia?
Também isso implicava uma profunda alteração nas regras que existem na União Europeia, mas mesmo no actual quadro, com mais deputados da CDU é possível levar ao Parlamento Europeu as propostas que aqui se fazem, levando os problemas, as aspirações e as propostas na defesa da nossa indústria, da nossa agricultura e das nossas pescas, mas igualmente dando particular atenção à educação, ao Ensino Superior, à investigação e à inovação, que são áreas fundamentais para o desenvolvimento do país.

Um ano depois da implementação do Tratado de Bolonha, que balanço é que faz desta nova etapa do Ensino Superior em Portugal?
Lamentavelmente, em Portugal, o que se está a passar com o ensino e, em particular, com o Ensino Superior, é muito triste. Tenho reunido com dirigentes de algumas universidades, responsáveis do ensino em Portugal e em diferentes zonas do país e chego à conclusão que o Governo, não só está a desinvestir no Ensino Superior e na investigação em Portugal, como não está a apoiar as propostas que têm sido feitas para melhorar equipamentos e programas, rejeitando, inclusivamente, candidaturas de universidades aos programas comunitários e conduzindo ao encerramento de pólos universitários do ensino público. O projecto de Bolonha foi uma má aposta, como é óbvio, pelo menos na forma como o concretizaram porque o que visam com a aplicação do projecto em Portugal é só obrigar os alunos e as suas famílias a pagar a formação superior para completar os estudos que deviam ser acessíveis a todos e que se tornam impossíveis para uma boa parte dos nossos jovens em Portugal. Na prática, com este processo de Bolonha, está novamente a proceder-se à elitização do Ensino Superior.

O que é ser europeu?

Qualquer pessoa que nasça em Portugal é europeia porque Portugal está na Europa e sempre esteve. Por isso, eu considero-me uma cidadã portuguesa, uma cidadã europeia, uma cidadã do Mundo. O que nos define como europeus é ter nascido na Europa. São mais de 30 países que constituem esta área geográfica e não apenas os países da União Europeia.

“Somos a única candidatura que aposta na defesa dos interesses nacionais”

O que diferencia a candidatura da CDU da dos restantes candidatos?

Nós somos a única candidatura que aposta na defesa dos interesses nacionais porque isso é essencial para defender a nossa produção e o emprego com direitos para a nossa população, porque a questão da soberania nacional é uma questão central na nossa capacidade de negociação na Europa, dos direitos que temos a produzir de acordo com os nossos interesses. Por isso, nós defendemos que se respeite o princípio de estados soberanos e iguais em direitos e defendemos o aprofundamento da democracia contra o federalismo e contra o directório das grandes potências. Estas querem impor as regras dos grupos económicos e financeiros a toda a gente para facilitar a concentração da riqueza à custa da exploração de quem trabalha e cuja participação na vida económica do país é fundamental para o nosso desenvolvimento e progresso social. Mas, igualmente, nós apostamos na defesa de uma outra Europa, Europa de paz, de cooperação, de diversidade de culturas, pelo respeito, naturalmente, pela identidade de cada povo, pugnando nós sempre pela promoção da língua e da cultura portuguesas.