Os jornalistas portugueses estão a acolher com grande cepticismo os dados da Associação Mundial de Jornais, divulgados no final de Maio, que revelam que, em 2008, a venda de jornais cresceu 1,3% em todo o mundo. António Granado, jornalista do Público, acusa mesmo os responsáveis pelo documento de utilizarem dados manipulados.

“Não sei como é que eles podem dizer que os jornais estão a aumentar em todo o mundo. Este relatório é uma vergonha que faz muito mal aos jornais. É enterrar a cabeça na areia e não querer ver a crise”, afirma o jornalista do Público. “Os novos leitores não se interessam pelo suporte de papel. Lêem pela Internet, lêem através do telemóvel, através dos seus dispositivos móveis. As notícias chegam-lhes das mais variadas formas”, remata.

Luís Carvalho, também jornalista, também duvida que em Portugal o panorama seja tão positivo como o relatório indicia. “Acho que em Portugal os números não são tão animadores e os jornais, para sobreviverem, terão de passar por uma aposta no meio online“, afirma. Apesar disso, o jornalista acredita que “o público do jornal de papel ainda existe, não será é tão grande como há alguns anos.”

Manuel Carvalho, director do jornal Público no Porto, diz que “o mercado onde os jornais impressos convencionais cresce é nos países em desenvolvimento”. “Em todos os países avançados, seja na Europa Ocidental, seja nos Estados Unidos, no Canadá ou no Japão, parece-me óbvio que há um decréscimo de circulação que se mantém de há três ou quatro anos a esta parte.”

Jornais só vendem porque estão “sob esteróides”

Para António Granado, os jornais só continuam a ter lucro graças à venda de produtos associados como colecções de livros ou DVD. “Só estão a vender mais porque estão sob esteróides”. Por isso mesmo, o jornalista considera que os “números do relatório dão vontade de rir.”

Também o director do Público considera que as vendas dos jornais têm origem no “facto das empresas jornalísticas estarem a fazer fortíssimos investimentos em produtos associados, em ofertas, dádivas, colecções, que fazem com que as pessoas comprem o jornal não tão pelo seu valor informativo, mas por trazer uma oferta qualquer.”

Manuel Carvalho também diz que o meio digital é o principal rival do jornal em papel. “O jornal diário impresso está a sofrer uma fortíssima ameaça por parte dos jornais digitais e, na minha opinião, mais um ano dois irá sofrer a maior queda”, vaticina. “As novas gerações acham que o jornal é um arcaísmo de uma era que está definitivamente a passar de moda”, afirma o director.

Assim, os jornalistas parecem não acreditar num cenário favorável ao jornalismo impresso. “Fazer um relatório a dizer que o papel está a vender mais é ridículo, é enganador, é a estratégia da avestruz”, conclui António Granado.