Menos teoria, mais disciplinas práticas, uma maior participação aos estudantes que são incentivados a adquirir conhecimentos fora das paredes da faculdade. O Processo de Bolonha veio alterar os paradigmas de ensino e as críticas sucedem-se.

A Faculdade de Direito da Universidade do Porto (FDUP) é uma das que mais recentemente adaptou os planos de estudos ao Processo de Bolonha. Para os estudantes o caminho a percorrer ainda é longo. “Pouco ou nada mudou”, salienta Adriana Gouveia.

Tânia Santos, aluna do 3.º ano da FDUP, vai mais longe ao afirmar que, para algumas faculdades até da própria UP, “Bolonha ainda é uma utopia”. “Há tentativas fantasma de promover encontros e trabalhos de investigação aos alunos, coisa que, na realidade, não acontece. Na minha faculdade as faltas não existem, a avaliação contínua deixou de ser opção, não para passar a ser obrigatória, mas porque simplesmente não existe.”

Adriana Gouveia concorda. “A única coisa que mudou foi o facto do curso de Direito passar para quatro anos em vez dos cinco”, algo que a estudante não vê com bons olhos. “Tiraram-nos um ano, o que prejudica bastante a nossa formação, visto que o plano curricular teve de ser alterado, condensando algumas disciplinas em apenas um semestre do ano lectivo.”

Na Faculdade de Engenharia da UP (FEUP) a situação é diferente. “Apesar da natural resistência à mudança associada a qualquer processo de transição, os estudantes aceitarem as mudanças entre os antigos cursos e os actuais”, diz Carlos Magalhães Oliveira, vice-presidente do Conselho Pedagógico da faculdade.

“Há muito alheamento”

Os ânimos continuam a exaltar-se quando o assunto é o Processo de Bolonha. Basta recordar os protestos no Dia do Estudante, em Março, ou a ocupação da Faculdade de Belas Artes da UP em Abril, alturas em que os estudantes não esconderam a sua opinião quanto à reformulação do ensino.

Em resposta, Sebastião Feyo, delegado nacional ao Bologna Follow-up Group (BFUG), o grupo internacional que acompanha o processo, considera que, na “realidade relativa” de Portugal, “não há muita crítica”, mas sim “muito desconhecimento”. O responsável vai mais longe: “Lamento dizê-lo, mas há muito alheamento, o que é mau.”

“É evidente que este é um problema complicado porque tem uma componente política de alguma dimensão, relacionada com a visão da construção europeia. Ora, todos sabemos que quando um assunto tem componentes de paixão as discussões são rapidamente enviesadas para caminhos pouco racionais”, acrescenta.