Contrariando o estigma que diz que “a tropa é só para homens”, o número de mulheres que escolhe a carreira militar como opção de vida tem vindo a aumentar. Ingressam no Exército, dizem, porque foi um “sonho” que sempre quiseram concretizar ou por falta de emprego e opções de carreira “lá fora”. Cedo descobrem uma “segunda família” nos camaradas da vida militar.

Apesar de, nas provas físicas, as exigências serem mais baixas do que as dos homens, as mulheres não são vistas como um elo mais fraco que não alcança os objectivos e as metas que a vida militar propõe. “É-nos descontada qualquer coisa, porque a nossa condição física é diferente da dos homens. Mas dentro destes portões, somos todos iguais”, conta Marlene Ferreira.

Dentro do Regimento de Artilharia N.º 5 da Serra do Pilar, em Gaia, a persistência é uma das qualidades necessárias para seguir a vida militar. Patrícia Costa, de 18 anos, sempre quis seguir esta carreira. Afirma com confiança que “com força de vontade tudo se consegue” e que até as provas mais duras podem ser ultrapassadas. “Aguenta-se bem. Qualquer pessoa minimamente preparada consegue”, afiança.

Foi esta coragem que faltou a alguns camaradas de Patrícia Costa e Marlene Ferreira, que desistiram ao longo das cinco semanas que antecederam o Juramento de Bandeira. “Houve uma camarada que desistiu porque não conseguia lidar com os problemas que estava a ter lá fora. Depois houve outros casos que não tiveram força suficiente para continuar”. Para os soldados que ficam é sempre difícil ver os camaradas desistir. “Mas não podemos dizer que são as mulheres que mais desistem”, indicam.

Militares como “servidores de Deus”

Marlene inscreveu-se no centro de emprego por três vezes e, à terceira, alistou-se no Exército. Era cabeleireira e não conseguia arranjar trabalho dentro da área. Acredita que pode estar no Exército “por vontade de Deus”. Nunca se sentiu inferiorizada e não se lembra de nenhuma atitude machista por parte dos seus camaradas homens.

Dentro dos pelotões, as mulheres são muitas vezes as que mais se destacam. Seja pela arrumação da caserna, seja por desembaraçarem melhor nas tarefas mais sensíveis, seja mesmo pela resistência e vontade com que suportam determinadas provas físicas.

Marlene Ferreira confessa que prefere marcar a diferença por ser cristã do que por ser mulher. “Gostava de poder testemunhar Deus, acima de tudo, entre os militares. Porque mais do que militares, somos servidores de Deus. E gostava que nos pudéssemos unir todos, ainda mais”.