Chegam com um saco onde têm apenas o essencial. Mostram os documentos e iniciam a Incorporação. Deixam as malas na caserna, conhecem alguns dos oficiais – aqueles que precisarem -, cortam o cabelo, assistem a uma palestra sobre o que os espera durante as cinco primeiras semanas. Poucos parecem assustados. Mas nas mãos, que estremecem, transparece o nervosismo

São recrutas do Regimento de Artilharia N.º 5 da Serra do Pilar, em Gaia. Entraram quase 300. Mas, cinco semanas depois, serão 270 a fazer o Juramento de Bandeira.

Exército não é para todos

Para entrar no exército é necessário preencher alguns requisitos mínimos. Os inscritos têm de ter pelo menos 18 anos, o 6.º ano de escolaridade e só se podem inscrever até aos 24 anos. A altura também é tida em conta: os homens têm de medir no mínimo 1,60 metros, enquanto que as mulheres devem chegar a 1,56 metros. Além disso, são realizadas algumas provas físicas: é exigido aos inscritos que consigam fazer, no mínimo, 15 flexões, 25 abdominais durante um minuto, correrem um percurso de dois quilómetros em 12 minutos e saltarem um muro com altura de 50 centímetros. São ainda realizados exames médicos e psicotécnicos que avaliam as capacidades cognitivas de todos candidatos.

“A primeira semana é a pior de todas. Temos de nos habituar àquilo que é novo: os horários, o uniforme, as botas, as pessoas. As bolhas, as pernas cansadas, tudo”, conta Marlene Ferreira, uma das muitas mulheres que escolheram o exército como opção de vida. No entanto, com a dose certa de determinação e empenho, todos conseguem habituar-se, até talvez mais do que o esperado. “Acabamos por nos habituar tanto que eu posso dizer que ao fim-de-semana tenho saudades disto”, acrescenta a recruta de 23 anos.

Viram alguns camaradas a desistir. Mas dizem que nunca foi por falta de vontade. “Desistem quando ainda não estão bem adaptados e também porque ainda não nos conhecemos bem”, conta Marlene Ferreira.

João Pereira confessa que contava encontrar maiores dificuldades para estabelecer laços com os seus camaradas. “Quando chegamos aqui e vemos 24 camaradas numa caserna, todos de pontos diferentes, pensamos que vai ser complicado, mas começamos por uma pessoa e, ao fim de algum tempo, já nos damos bem com todas as pessoas”.

Para o recruta de 23 anos, a camaradagem é mesmo o ponto mais positivo da vida militar. “Às vezes pode falhar, é certo. Mas ajudamos e somos sempre ajudados pelos nossos camaradas”, diz. Ao fim de cinco semanas, “isto acaba por ser a nossa segunda família”, completa o recruta Almeida.

Pela pátria, marchar

Ao fim das primeiras cinco semanas de recruta, chega o primeiro grande momento da vida militar: o Juramento de Bandeira. Nesta cerimónia, os novos soldados juram proteger e servir a pátria até com a própria vida. Recebem a boina e os mais empenhados são destacados do pelotão.

“Agora temos mais responsabilidades. E se não cumprirmos as nossas tarefas somos punidos”, revela o recruta João Pereira ao JPN, após a cerimónia.

Com pompa e circunstância, os oficiais dos postos mais altos recebem as condecorações que lhes são atribuídas. Valores como a honra e o dever, o serviço à pátria e a disciplina, tornam esta uma carreira aliciante para os jovens, principalmente agora que o mercado de trabalho não oferece oportunidades estimulantes.

Almeida, soldado recruta de 24 anos, admite que esta foi, aliás, a principal razão para experimentar a vida militar. “Estava difícil encontrar emprego lá fora. No início, o que mais me fascinou foi o salário.”

O dia é de festa. Mas a postura é sempre, rígida e disciplinada. Uma das principais faces do Exército é esta: a disciplina, encarada pelos recrutas como um meio para atingir a união entre os camaradas, o respeito pelos oficiais, o hábito do trabalho e o empenho e rigor nas tarefas executadas.