As associações LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgéneros) encaram com optimismo a recente abertura do Partido Socialista (PS) à discussão do casamento entre pessoas do mesmo sexo, que, dizem, pode pode abrir as portas para a legalização da união.

Sérgio Vitorino, da associação Panteras Rosa, considera que “a relação dos partidos políticos com esta temática continua a ser oportunista. É uma relação ao sabor das eleições”.

O presidente da Opus Gay está “confiante” na legalização do casamento entre duas pessoas do mesmo sexo. “Estão reunidos os consensos necessários. Sempre disse que em Portugal esta questão precisava de uma base social de apoio com franjas do PS, PSD, Verdes e Bloco de Esquerda. Este é um bom bloco sociológico que apoia esta causa. Não é um bloco central PS/PSD”, explica, ao JPN, António Serzedelo.

Já Paulo Côrte-Real, da Ilga Portugal e Rita Paulos, da Rede Ex-Aequo, preferem não falar de aproveitamento político.

“Isso é irrelevante”, diz Paulo Côrte-Real. “O que nos interessa é que o assunto seja colocado na agenda política”, explica Rita Paulos. “A partir do momento em que o PS consiga, ou não, ter maioria absoluta, acho que a probabilidade de finalmente esta mudança ocorrer é altíssima”, reforça.

Leis “ajudam a modificar mentalidades”

Quando confrontado com a possibilidade de a nova lei poder trazer o fim da homofobia, António Serzedelo revela-se céptico. “As mentalidades não se modificam por lei, mas as leis ajudam a modificar as mentalidades. É claro que falta saber muitas outras coisas: é preciso, sobretudo, políticas integrativas contra a homofobia”, sugere.

Paulo Côrte-Real considera necessária a realização de um trabalho “continuado, longo, de luta contra a discriminação na própria sociedade”. Ainda assim, sem a legalização das uniões entre pessoas do mesmo sexo -“passo em que o Estado deixa de legitimar o preconceito” -, o presidente da ILGA Portugal julga ser “impossível” haver uma política “credível” de combate à discriminação.

No entanto, para Sérgio Vitorino, mais do que a legalização do casamento entre duas pessoas do mesmo sexo é importante, também, considerar a adopção, uma “realidade entre a comunidade homossexual”.

“Não faz sentido falar em casamento entre homossexuais e não de adopção, que faz parte do conceito de família. Estamos a falar de pessoas que, nas suas relações, têm filhos muitas vezes biológicos, através de mães de aluguer”, alerta o presidente da Panteras Rosa.