Uma cidade não pode ser formada apenas por estudantes. Precisa de “trabalhadores, moradores, famílias com cão e gato e crianças com triciclo”. Se é ao arquitecto Pedro Balonas que pertence a afirmação, rapidamente esta é reforçada por Carlos Prata, para quem a “sociedade é uma mistura de coisas”, que deveria estar representada num “edificado heterogéneo”.

Algo a que o projecto de reabilitação urbana da Porto Vivo não tem atentado. “Por ser o primeiro projecto de reabilitação urbana em funcionamento em Portugal”, estar numa “fase experimental” e, por isso, precisar de “maturidade” para não “cometer erros”, diz Balonas, apesar de sublinhar que “já muito foi feito”.

“O Porto de há dois anos não tem nada a ver com o de hoje”, enfatiza. O também arquitecto Carlos Prata considera “louvável” haver “quem gira as questões públicas”, mas aponta para a dificuldade de consenso entre “políticas generalistas” onde existem tantos interesses distintos.

Os projectos:

A reconversão da Frente Ribeirinha do Porto e a futura construção da Praça de Lisboa são as maiores obras que a Balonas Projectos tem no centro da cidade. Carlos Prata é o autor de vários projectos no Centro Histórico do Porto, nomeadamente a reabilitação da Rua 31 de Janeiro, aquando do Porto 2001.

“A reabilitação do edificado é um trabalho interdisciplinar que mexe com a percepção de mecanismos sociais e com questões económicas”, salienta.

Cidade não é feita apenas por actividades “trendy” e “fashion”

Se é verdade que Pedro Balonas olha para a actividade nocturna das ruas Galeria de Paris e Cândido dos Reis como um “fenómeno interessante” de cultura urbana, para o arquitecto também é importante realçar que não será apenas graças a actividades “trendy e fashion” que a cidade ficará habitada.

“Eu acredito numa cidade que tem trabalhadores, moradores, famílias com cão e gato e crianças com triciclo”, diz o arquitecto. Por isso, a grande lacuna do Porto é a ausência de infra-estruturas como “creches, escolas, jardins”, autênticos “centros de proximidade” que afirmem uma cidade como espaço urbano, realmente dotado de serviços.

“Deve haver transformações para todos os gostos, mantendo algumas características dos edifícios que estão melhor conservados porque a sua construção é única e já não se repete”, concorda Carlos Prata. O “respeito pela imagem da cidade” também é a prioridade nos projectos de Balonas, ao espelhar a “marca do tempo” e a “época da intervenção”.

As casas de hoje não podem ter “quarto para a criada”

Segundo Carlos Prata, o “grande problema é o confronto entre as tendências actuais e o tipo de habitação com que se construiu o centro histórico”, que “representa uma forma de vida completamente diferente da actualidade”. “Não é possível ter casas com três ou quatro pisos e um quarto para a criada interna.”

A “avaliação do edificado que pode ser recuperado” é o primeiro passo, seguido da observação “daquilo que tem de ser transformado para se ajustar ao mercado”.

Já Pedro Balonas atenta para a necessidade da cidade encontrar o seu “desígnio”. “Falta investir num documento que estude as necessidades de infra-estruturas para realmente fixar os residentes. Como podemos construir se nós, portuenses, não temos um projecto para a cidade?”, indaga.