Na década de 90, o mundo assistia ao crescimento do rock alternativo e ao declínio do rock clássico, que dominou os anos 80. Os jovens vibravam com o grunge dos Nirvana e dos Pearl Jam, enquanto o hip-hop emergia e tornava-se mainstream, com Tupac a liderar o movimento. Já o pop ganhava terreno, com o aparecimento de diversas girls e boysband.

Já em Portugal, os acordes eléctricos do rock vendiam milhares de álbuns e a língua inglesa tornava-se comum em vários grupos de sucesso. De entre os casos de maior projecção no país, alguns houve que desapareceram quase tão rápido como surgiram, mas que deixaram marcas na música portuguesa.

Henrique Amaro, locutor da Antena 3, viu nascer algumas dessas bandas. Ornatos Violeta, Silence 4 e Black Company são projectos que o jornalista destaca como representantes de três estilos bem diferentes.

Diferentes estilos, diferentes percursos

Na opinião de Henrique Amaro, os anos 90 foram fundamentais para o aparecimento da black music. “Foi a década onde se começou a sentir os sinais da descendência africana nascida em Portugal”, diz.

Nesse sentido, o locutor destaca o “aparecimento do hip-hop, de uma música ritmada, do groove“, dando como exemplo bandas como Da Weasel, General D ou Black Company. “Foram eles que, em parte, deram uma nova direcção à música portuguesa”, refere.

Mas não foram os únicos. O locutor de rádio revê os Ornatos Violeta como um grupo que, “numa perspectiva de música eléctrica, rock, pop rock“, “revitalizou a música portuguesa”.

Para Henrique Amaro, de todas as bandas que apareceram e desapareceram nesta altura, esta é a única que ainda “está realmente viva no consciente e no dia-a-dia das pessoas”, sendo que, “até há bem pouco tempo, qualquer banda que aparecesse a fazer rock em português era logo conotada com os Ornatos Violeta”.

A sonoridade eléctrica da banda portuense, partilhada por outros grupos como Três Tristes Tigres ou Zen, é, aliás, espelho de um fenómeno regional, segundo Henrique Amaro. “Se Lisboa funcionou como o motor da música negra portuguesa, o Porto é o berço da música eléctrica”, sublinha.

Já no que diz respeito ao rock cantado em inglês, surgido nesta década, o autor do programa “Portugália” destaca os Silence 4. A banda de Leiria que vendeu mais de 240 mil exemplares do seu primeiro álbum, atingiu uma popularidade até então inédita em Portugal. “Na altura [já era] difícil, hoje [é] uma tarefa impossível”.

As bandas inspiradas no grunge são outra das referências que Henrique Amaro destaca para caracterizar a década de 90 musical. Blind Zero e os já extintos Cosmic City Blues são, para o locutor, bons exemplos de bandas que marcaram os anos 90.