A entrega do projecto de reabilitação do Bolhão ao Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR) é um “erro político grosseiro”. É a conclusão a que chega a Associação e Feiras e Mercados da Região Norte (AFMRN), depois de ter reunido com a arquitecta Paula Silva, directora do projecto.

A possibilidade de demolição dos pequenos espaços centenários de comércio tradicional, não se sabendo se voltarão a ser reconstruídas ou não, e a inviabilização da passagem subterrânea, destinada a um parque de estacionamento, até ao quarteirão da Antiga Casa Forte são algumas das questões que preocupam a AFMRN.

O facto de todo o actual projecto estar a ser pago com o erário público também não agrada à associação. Em declarações ao JPN, o presidente da AFMRN, Fernando Sá, admite que não consegue encontrar justificação para Rui Rio não querer avançar com o projecto gizado pelo arquitecto Joaquim Massena, já em 1998.

“Achamos que Rui Rio não quer implementar um projecto do tempo de Fernando Gomes. Desde que tomou posse que o projecto foi posto de parte”, diz ao JPN. “Trata-se de uma questão de pura teimosia”, continua.

Resgatar o projecto de Massena

O responsável explica que, inicialmente, o presidente justificava essa opção com o problema da falta de verbas, mas que agora se escusa a dar qualquer tipo de explicação para a recusa do projecto de Massena. Acusa, ainda, o autarca de se esquivar deste assunto em época de campanha para as eleições autárquicas. “Todos os outros candidatos têm referido a questão do Bolhão”, comenta.

Para a AFMRN, seria de todo o interesse que a Câmara do Porto utilizasse o projecto engavetado de Massena, aprovado por todas as entidades necessárias, incluindo o IGESPAR. “Se o novo projecto vai ser pago com dinheiros públicos, por que é que não se aproveita o que já está na gaveta?”, questiona Fernando Sá. No entanto, visto o projecto ter já 11 anos, teriam de ser feitas algumas adaptações para que pudesse ser levado a cabo.

Antes de o projecto de reabilitação do mercado do Bolhão estar entregue ao IGESPAR, tinha sido adjudicado a uma empresa privada holandesa – a TramCroNe (TCN) -, que pretendia transformar o mercado num centro comercial, ideia que não agradou aos comerciantes, que defendiam que o mercado tradicional e a traça original daquele que é um dos edifícios mais emblemáticos do Porto deveriam ser mantidos.