Alguns jornalistas têm “a percepção de que o seu local de trabalho está em risco”, o que faz com que “haja reportagens tabus nas empresas e grupos”. “Hoje há um clima de medo na maior parte das redacções.”

É esta a opinião do presidente do Sindicato dos Jornalistas (SJ), Alfredo Maia, que, esta terça-feira, deu uma conferência no curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto sobre “As implicações da concentração da propriedade dos media”.

Para Alfredo Maia, os profissionais sentem-se condicionados, optando por não abordar assuntos relativos ao grupo económico a que pertence o órgão de comunicação em que trabalham, por receio de sofrerem sanções como o despedimento.

Lei do Pluralismo

A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) propôs a Lei do Pluralismo e da Não Concentração dos Meios de Comunicação Social (Lei da Concentração). O Presidente da República vetou pela 2.ª vez esta lei a 20 de Maio. O primeiro veto aconteceu a 2 de Março, depois de ter sido aprovado a 23 de Janeiro pela maioria socialista, com os votos contra de todas as bancadas da oposição. Esta lei impedia que os órgãos de comunicação social pertencessem ao Governo, governos regionais ou autarquias (à excepção do serviço público de rádio e televisão).

O responsável salienta que este é um dos perigos da “forte presença das sociedades financeiras nos sector media”. Por isso, para resistir à concentração actual, Maia sugere que os jornalistas se unam em cooperativas de “maneira de romper o cerco”. Desta maneira, conseguiriam “assegurar o trabalho e garantir o rendimento”.

Maia refere as restantes consequências negativas da concentração actual no mercado: o risco de excesso de intervenção no processo de recolha de informação e um maior controlo do mercado de trabalho.

Os grupos regem-se pelo “pendor excessivo do lucro”, “detendo um monopólio” e controlando “as regras de acesso, permanência e exclusão dos trabalhadores”, alerta o responsável. Como consequência, forma-se na opinião pública a ideia de que há interesses obscuros das empresas no controlo da comunicação social.

Maior diversidade de meios não garante pluralismo

Apesar de haver uma maior diversidade de meios, tal “não é sinónimo de diversidade informativa”. Aliás, pelo contrário. A informação é vista como “uma mera mercadoria para ser facilmente distribuída, em vários meios”, cujo resultado é “a mesma informação a ser distribuída por diferentes plataformas”.

Os mesmos artigos são reutilizados noutras publicações, “o que pode levar à concretização de uma redacção única, onde o profissional funciona como jornalista multi-usos, usando diferentes recursos electrónicos”. O presidente lamenta que isto conduza a um “apelo ao consumo e à formatação dos gostos”.

No entanto, Alfredo Maia não deixa de assinalar os aspectos positivos do fomento das sinergias, como a rentabilização das infra-estruturas (conjugação de diferentes sectores num único edifício) e a aplicação de uma economia de escala, que permite obter equipamentos a baixo custo.