Germano Silva iniciou a sua carreira como jornalista a “13 de Outubro de 1959”, como o próprio recorda. A faceta de historiador veio “na sequência do jornalismo”, como resultado da curiosidade acerca da cidade onde trabalhava. “Só seria um bom repórter”, explica, “se conhecesse o Porto, a origem das ruas, as personalidades, os factos políticos”.

Da curiosidade jornalística à partilha da História com o grande público foi um passo. A divulgação aconteceu, confessa, porque lhe pareceu que “a cidade andava alheada da sua própria história”.

Desde 1959, muita coisa mudou no Porto, garante Germano Silva. “A cidade evoluiu para pior”, lamenta, especialmente porque, no passado, o Porto era “uma cidade com coluna vertical” e que “batia o pé a Lisboa”.

Só nos anos 60, diz o jornalista, a Invicta “recuperou a autonomia com o General Humberto Delgado”, quando voltou “a ter uma vida muito intensa, com tertúlias nos cafés, focos irradiadores de cultura”.

Desde aí, a cidade, que Germano Silva considera muito ligada à cultura e com “uma marca cultural muito grande”, perderia essa componente, recuperando-a em parte apenas durante “o período com Fernando Gomes na presidência”, em que se tornou “Património da Cultura e teve o Porto 2001”.

Hoje em dia, o Porto “voltou a estagnar”. “A cidade está apagada, sem carisma, sem chama”, declara. Uma cidade “à venda, decadente, a cair”, que poderia ter renascido culturalmente “se houvesse alteração na administração da Câmara”, pois “o município alheou-se da cultura e do urbanismo”.

Cinco décadas na “profissão ideal”

Durante os cinquenta anos de profissão, Germano Silva assistiu às mudanças, não só no Porto, mas também no próprio jornalismo. O jornalismo em Portugal “transformou-se completamente”, devido “às novas tecnologias, que alteraram a sua faceta”. Hoje em dia, o jornalismo é diferente porque “a informação é mais rápida e a comunicação processa-se de forma diferente”. “Ainda apanhei a cauda do jornalismo romântico”, declara. “Sou do tempo do tinteiro e da pena.”

Em jeito de balanço, Germano Silva olha para os cinquenta anos de carreira com “tranquilidade”. “Fiz tudo o que gostava de fazer e queria fazer”, confessa. Viajar e contactar com pessoas eram as suas principais motivações como jornalista. Sente-se “feliz”, pois sente que abraçou “a profissão ideal”, pois “é todos os dias uma novidade”.

Entusiasmado com as “facilidades” que as novas tecnologias trouxeram ao jornalismo, Germano Silva mostra-se, no entanto, preocupado com a “fraca preparação dos jornalistas quando saem das escolas” e da falta de incentivo dos profissionais.

Faz falta, diz, ir “para o terreno”, porque “isso é o sal do banquete que é o jornalismo”. “Perdeu-se a reportagem”, lamenta. Mesmo assim, considera que há “excelentes profissionais hoje em dia”, lamentando apenas o desaparecimento da figura do chefe de redacção, um “camarada com grande experiência”, que puxava “pelo espírito criativo” do jornalista.

Germano Silva encontra-se aposentado da profissão desde 1996, colaborando com frequência com a revista Visão e o Jornal de Notícias, tendo neste último a coluna dominical “À descoberta do Porto”.