“Não é bombeiro quem quer, é bombeiro quem gosta”, atira, de imediato, Abel Lopes, bombeiro de primeira classe. E a explicação não tarda: “Nós estamos entre o doente e o cangalheiro”.

E, por isso, apesar de “toda a gente poder ser bombeiro”, na opinião de Manuel Pereira, formador de cursos internos para bombeiros, “nem todos o chegam a ser”. É preciso “gostar, ter muita dedicação e amor ao próximo”, confirma Márcia Oliveira.

Exigência, disponibilidade, polivalência. São três palavras-chave do dia-a-dia dos Bombeiros Voluntários de Valadares, em Vila Nova de Gaia. Propósitos que os profissionais não esquecem, mesmo quando estão afastados do comando a recuperar “relíquias” da corporação.

Se há dias em que o bulício dos fogos florestais não dá tempo para respirar, outros há em que a calma toma conta do quartel e os trabalhos rotineiros ditam o dia-a-dia.

O transporte de doentes, conhecidos carinhosamente como “encrencas” pelo pessoal da corporação, é um dos serviços diários. São cerca de 90 os doentes que necessitam de serviços de fisioterapia.

A central de telecomunicações

Quem lida de perto com todos os pedidos são os bombeiros da central de telecomunicações que recebe as chamadas. Sérgio Costa trabalha na central há quatro anos, mas já há 20 que é voluntário.

“Não é fácil, tanto que é o local onde ninguém quer estar. Tenho que estar aqui preso, tem que se lidar com muitas situações”, salienta o bombeiro. Trabalha oito horas por dia à semana, doze ao fim-de-semana. E a calma é um bem necessário. “Se não tivermos calma o socorro não vai ser bem prestado”, revela Márcia Oliveira, que também trabalha nesta divisão.

O trabalho das diferentes secções é sempre feito em equipa. Apesar de não estarem divididas em termos de espaço físico, existem diferentes células dentro de uma corporação: a área de planeamento, a de operações e formações, a de pessoal e instrução, a área de comunicações e a área logística, cada uma com um responsável.

Apesar das especializações, tem de existir sempre uma grande polivalência e, sobretudo, disponibilidade. “Não existe horário de entrada nem de saída, às vezes tem que haver uma disponibilidade de 24, 36 horas”, afirma Abel Lopes, motorista, e um dos bombeiros supra-numerários que, de acordo com a nova legislação, passará, até ao final do ano, a bombeiro de terceira classe.