Foi uma conversa entre o “mestre e a aluna”, como descreveu Agnès Varda, no Auditório de Serralves, esta quarta-feira. Durante mais de uma hora, a cineasta de 81 anos trocou confidências com o centenário Manoel de Oliveira e aproveitou para falar das duas instalações vídeo que estão em exposição na instituição: “Bord de mer” e “Le tombeau de Zgougou”.

Mas também houve tempo para reflectir sobre o cinema, essa arte de tornar uma “coisa invisível” em algo “visível para o espectador”, dizia Agnès, aproveitando para rematar: “E penso que o Manoel concordará comigo.” “Plenamente”, respondia o realizador, uma palavra que acabaria por repetir várias vezes ao longo da intervenção da belga.

Agnès Varda é conhecida por usar pequenas câmaras digitais na realização dos seus filmes. E foi com uma dessas câmaras que aproveitou para filmar Manoel de Oliveira, João Fernandes (director do Museu de Serralves), Saguenail (realizador francês que a traduziu) e até mesmo o público.

Diz a cineasta que esta escolha de material é uma forma de se “aproximar das pessoas” e “conseguir um diálogo”, algo que uma “equipa pesada” nem sempre atinge.

Deste modo, Agnès consegue realizar “de um modo natural e orgânico”, a única maneira de “fazer cinema”. E em filmes como “Os Respigadores e a Respigadora”, o seu trabalho mais conhecido, isso é essencial. “Quis fazer o filme respeitando os respigadores. Mas também me dei conta que não sou uma socióloga pura e dura.”

“Les Plages d’Agnès”, o seu mais recente filme, iniciou a Festa do Cinema Francês no Porto, na qual é a homenageada. De sexta-feira a domingo, o Auditório de Serralves também o exibe.

“De velha cineasta a jovem artista”

Foi graças ao seu tríptico de batatas, uma instalação vídeo, que Agnès Varda sofreu uma transformação. “De velha cineasta a jovem artista”, declarou, enquanto recordava à audiência aquele momento em que se vestiu de batata na Bienal de Arte de Veneza para promover o seu trabalho.

“Num mundo de publicidade e promoção temos de ter meios criativos”, proferiu, citando depois Luis Buñuel: “Por detrás do mistério coloca-se a imaginação que é próprio do homem”.

E é agora enquanto “jovem artista” que inaugura duas instalações vídeo em Serralves. “Le tombeau de Zgougou” homenageia o seu falecido gato ao reproduzir, em animação, a concretização de um túmulo ao felino.

Em “Bord de mer”, Agnès regressa ao mar, um tema central na sua obra desde o seu primeiro filme. Ambas estão em exposição na Casa de Serralves até 29 de Novembro.