Quando o porta-voz do SED, o partido único da RDA, disse que os alemães de Leste poderiam viajar livremente, multidões juntaram-se nos postos fronteiriços.

As imagens de alemães a dançarem em cima do muro e de picaretas a iniciarem, pelas mãos do povo, o trabalho de demolição do “muro da vergonha” marcaram a história do século XX. Alemães de Berlim Ocidental e Oriental reuniam-se. Assistia-se ao auge da morte lenta do comunismo europeu, já anunciada desde que, quatro anos antes, Gorbatchov assumira o comando da URSS, e ao fim simbólico da Guerra Fria.

Em Janeiro de 1989, o secretário-geral do SED (partido único da República Democrática Alemã – RDA), Erich Honecker, declarara que daí a 50 ou 100 anos o muro continuaria no mesmo lugar. Mas quer o enfraquecimento da autoridade na RDA, quer os acontecimentos que se deram por todo o Leste nos meses que antecederam a queda do Muro de Berlim já faziam prever que o colapso estaria cada vez mais próximo.

Erigido em 1961 pelo Presidente do Conselho de Estado da RDA, Walter Ulbricht, com o apoio do primeiro-ministro da URSS, Nikita Khrushchov, o muro tinha como objectivo estancar a “hemorragia” de alemães do Leste para Berlim Ocidental.

Mas nem o muro conseguiu travar o êxodo. Segundo dados da Pública, só entre o Verão de 1989 e o dia 9 de Novembro, 200 mil alemães tinham conseguido fugir, pelas fronteiras húngara, polaca e checoslovaca. E, de acordo com a Visão História, entre 1950 e 1989, 4,86 milhões de alemães de Leste conseguiram fugir para a República Federal Alemã (RFA).

As palavras que precipitaram a queda do muro

Nos meses que antecederam a queda do muro de Berlim as manifestações na RDA tornavam-se uma constante. Os maiores protestos de sempre na história do país tiveram lugar nesse período. Desde Outubro de 1989 que marchas a favor de reformas na Alemanha de Leste decorriam todas as segundas-feiras à noite. O comunismo começava a dar sinais de fraqueza, com brechas a abrirem por todo o Leste – Polónia e Hungria.

Na tarde de 9 de Novembro, decidia-se, numa reunião do SED, que seria aprovada uma nova lei, que possibilitava aos alemães da RDA viajarem para o estrangeiro. Numa conferência de imprensa ao fim da tarde, transmitida em directo pela televisão e pela rádio da RDA, o porta-voz do SED, Gunter Schabowsky, pressionado por um jornalista estrangeiro para dizer quando é que a lei entraria em vigor, precipitou-se. “Tanto quanto sei, imediatamente”, respondeu.

O que estava previsto era que os vistos poderiam começar a ser pedidos no dia seguinte. Mas logo de seguida a Associated Press noticiou: “A RDA abre as fronteiras”.

Pouco tempo depois, os alemães de leste começaram a deslocar-se em massa para junto dos postos fronteiriços, insistindo para que os deixassem passar para o lado Ocidental. Numa tentativa de apaziguar os ânimos, os militares deixaram algumas pessoas cruzar a fronteira. Do lado oposto, começaram a saltar o muro. Multidões de Berlim ocidental e oriental pressionavam os soldados para abrirem as fronteiras.

Já perto da meia-noite o responsável pela fronteira de Bornholmern decidiu, sem quaisquer instruções superiores, permitir a livre circulação entre os dois lados do muro. Pouco depois todas as fronteiras estavam abertas. Abria-se o caminho para a reunificação, que se viria a concretizar no ano seguinte.