É com Gil Vicente que Nuno Carinhas, director artístico do Teatro Nacional S. João (TNSJ) desde Março, se estreia na encenação desde que assumiu o cargo deixado vago por Ricardo Pais. E, tal como o seu antecessor, escolhe “o pai do teatro português” para iniciar o seu percurso.

Actividades paralelas:

Em simultâneo, Ilda David inaugura, esta sexta-feira, às 18h30, a exposição “Vicente“, no salão nobre do TNSJ. “O que resta de Deus” é um ciclo de conferências, comissariado por Pedro Sobrado, com entrada gratuita, que vai trazer ao teatro personalidades ligadas à religião, entre as quais o Bispo do Porto. A 14 de Dezembro, entre as 20h00 e a 1h00, pode assistir-se à leitura integral de Paraíso Perdido, de John Milton.

Isto porque “é sempre bom regressar” a autores com “construções que soam completamente contemporâneas”, diz Carinhas, mesmo que este retorno seja feito a partir de um texto bem menos conhecido do teatro vicentino.

“Breve Sumário da História de Deus” estreia esta sexta-feira, no TNSJ, e está em cena até 20 de Dezembro. Com a peça, representada, pela primeira vez, na corte de D. João III, Nuno Carinhas não quer falar da Bíblia. “Quero falar sobre a condição humana”, adverte. Num “poema de Gil Vicente sobre outro poema que é a Bíblia” conta com três preciosos aliados – Belial, aquele que “trata e prende os mortais”, Satanás, o que “comete as tentações”, e o “estratega” Lúcifer.

“Eles [os demónios] são os condutores da acção, tal como o Anjo. Mas esta existência de demónios é algo que não é bíblico. Prefigura quase alguma coisa do domínio do surrealismo e isso agrada-me imenso.”

Com um elenco composto por 17 actores que interpretam personagens tão diversas como a Morte, Eva, o Mundo e Cristo, o “Breve Sumário da História de Deus” é construído em torno da “chegada de Cristo”, diz Carinhas. E, tal como o nome indica, é uma forma mais curta de conhecer a história da Bíblia.

“O que Gil Vicente faz é ser extraordinariamente económico porque pega nas personagens que interessam.”