“Corruptos”, “gatunos”, “ladrões”. São estas as palavras entoadas repetidamente pela meia centena de pessoas que se concentra, desde manhã, no balcão do Banco Português de Negócios (BPN) da Avenida de França, no Porto, exigindo a devolução dos depósitos efectuados naquele banco.

À hora de abertura do balcão, os clientes, num movimento organizado e legal, penduraram cartazes à porta do banco e entraram nas instalações do BPN, que prometem não abandonar enquanto não receberem uma resposta definitiva.

“Falamos com o director da agência, que remeteu para a administração do banco que, por sua vez, chamou a polícia”, explica o presidente da Associação Nacional de Defesa dos Direitos dos Clientes do BPN, António José Henriques, para quem a “administração tem de assumir as responsabilidades”.

Até porque, salienta, os ânimos estão exaltados e a associação de clientes do BPN “não se responsabiliza por situações que possam provocar decisões menos ponderadas” por parte dos clientes. “Queremos fazer parte da solução, mas as pessoas têm razão. Foram enganadas, burladas.”

Manifestação reúne clientes de diversos pontos do país

Passadas diversas horas, e depois de uma refeição improvisada dentro do balcão, os clientes continuam sem nenhuma resposta oficial para a sua situação. “Ninguém nos diz nada”, exclama uma das clientes, que se encontra dentro da agência do BPN na Avenida de França desde a abertura da mesma e promete não arredar pé.

Vieram de propósito de diferentes partes do país. “Só de Fafe estamos pelo menos oito”, diz um dos manifestantes. De Lisboa, vieram Germana Relógio e o marido para se juntar aos protestos. Há exactamente um ano, protestava pela mesma razão… o banco é que era outro, o BPP. “Têm de nos dizer alguma coisa”, pede, explicando que não desiste porque tudo o que tem “está nos bancos”. “Digo aos meus filhos para pouparem, para colocarem dinheiro de parte e acontece isto? Poupar? Para quê?”, questiona-se.

Outro cliente lesado, Ferraz Barbosa, reformado, salienta que não há diferenças entre clientes ricos e pobres. “A todos nós faz falta o dinheiro”, diz, informando que está “prestes a mandar parar uma obra porque o dinheiro está no banco”. “Angariei uns tostões para a velhice, meti cá e agora não posso movimentá-lo. Quero apenas aquilo que é meu”, refere.

Já Isabel Freitas optou pela greve de fome, a solução que encontrou para chamar a atenção para a sua situação. Desempregada e com cerca de cinquenta mil euros a reaver, rumou a Lisboa depois de lhe terem dito que aí lhe devolveriam o dinheiro. Voltou, no entanto, de mãos vazias.

Dois mil clientes sem resposta

Em causa, explica António José Henriques, estão as poupanças de cerca de dois mil clientes, que, somadas, dão cerca de duzentos milhões de euros.

O banco, pertencente ao Estado deste 2008, poderá ser reprivatizado, o que causou nova preocupação por parte dos clientes, que não sabem ainda o que aconteceu aos depósitos a prazo que fizeram e pedem, agora, ao Governo que devolva o dinheiro antes da reprivatização.

Segundos os clientes, foram convidados por gerentes do banco a subscrever Papel Comercial (títulos de dívida) da Sociedade Lusa de Negócios (SLN Valor), empresa que detinha o BPN, sempre com a garantia de que o seu dinheiro estava seguro. A transacção foi autorizada pelo Banco de Portugal três meses antes do banco ter sido nacionalizado, mesmo já sendo clara a insolvência do BPN.

Agora, pedem a todos os intervenientes a devolução das suas poupanças.”Eles sabem bem o que nos venderam”, ironiza João Pontes, um dos lesados. “Estamos fartos de reclamar mas ninguém tem culpa. Culpados somos nós que metemos o nosso dinheiro aqui”, finaliza.

As manifestações vão continuar, garantem os clientes, até que a situação sofra alguma alteração. Para a semana poderá mesmo acontecer uma outra “barricada”, noutra agência do BPN em Fátima ou em Alcobaça.