O terreno onde estão instalados, perto do Gaiashopping, alberga uma frota de 22 camiões que, em deslocação, ocupam quatro quilómetros de uma fila de trânsito. Bastam umas simples contas de cabeça para perceber que os criadores do Circo Mundial devem gastar muito dinheiro. Resta saber se as despesas são cobertas pelos lucros.

Rui Mariani, o fundador deste circo, confirma. Por detrás de cada espectáculo está uma lista de despesas que superam muitas vezes os ganhos. Mariani confessa que “para os encargos actuais, o circo tem de ser efectivamente muito bem gerido para dar lucro”. Fala dos impostos que paga, da crise geral que também afecta os restantes circos que estão espalhados pelo país, da falta de apoio das autarquias.

O Circo Mundial já conta com 15 anos de existência. No entanto, desde há cinco anos para cá que tem sentido grandes dificuldades em manter-se. Têm como única fonte de riqueza o dinheiro proveniente das bilheteiras e esse também tem vindo a diminuir.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o circo regista apenas 3% de espectadores no total de modalidades de espectáculo. As receitas do circo correspondem apenas a 1% dos 66,4 milhões de euros amealhados em espectáculos ao vivo. Números que só aumentam a mágoa de quem faz do circo a sua vida.

Falta de apoio à instalação do circo

Mariani aponta a falta de apoio ao circo como a principal razão para a sua revolta. “Sentimo-nos completamente desapoiados, discriminados”. As autarquias são o primeiro alvo de queixas. O dono do Circo Mundial acusa as câmaras municipais de fechar as portas ao circo e de barrar o caminho à sua instalação. Além de dificultar o negócio, Rui Mariani considera que as autarquias “estão a privar as pessoas que gostam de circo e que são os votantes deste país de assistirem aos espectáculos de circo na sua terra”.

No caso de Vila Nova de Gaia, onde está actualmente instalado o Circo Mundial, o terreno é cedido por Salvador Caetano, um amigo da família que, desde sempre, apoiou a actividade de Mariani. No resto das cidades onde o Circo Mundial tenta mostrar o espectáculo a resposta é muitas vezes negativa.

Uma crise que toca a todos

Rui Mariani admite que a crise está também a contribuir para uma baixa nas receitas, uma vez que tem consciência que a actividade que pratica não é um produto de primeira necessidade.

“A pessoa vem ao circo quando lhe sobra algum dinheiro. Actualmente, não sobra dinheiro a ninguém.” No entanto, confessa que todos os dias tem que ultrapassar obstáculos que não vê nas outras formas de arte, como é o caso do teatro. O pagamento de impostos “exorbitantes” pelos camiões e a recente proibição da compra de mais animais são problemas que levam Mariani a recear pela manutenção dos 40 postos de emprego de que é responsável.

“Não estou a pensar de momento fechar o Circo Mundial, mas, se o tiver de fazer, faço-o com grande desgosto, até porque tenho a minha família toda envolvida nisto. Custa-me bastante ter que desmontar isto tudo”, lamenta.