As mulheres de ex-combatentes vítimas de Perturbação de Stress Pós-Traumático (PTSD), vulgarmente conhecido como Stress de Guerra, acabam por sofrer de traumatização secundária, causada pelo contacto emocional profundo com os maridos. Já os filhos desenvolvem os sintomas de depressão e ansiedade, não pelo contacto com os pais, mas através de influência materna.

São estas as conclusões a que chegou a psicóloga Susana Martinho de Oliveira em “Traumas de Guerra: Traumatização Secundária das Famílias dos Ex-Combatentes da Guerra Colonial com PTSD”, uma tese de mestrado tida como um dos poucos estudos realizados em Portugal sobre o tema.

Prova desta tendência é o facto de, não raras vezes, serem as próprias mulheres a procurar ajuda para os maridos vítimas de PTSD, como explica, ao JPN, a psicóloga Sónia Coutinho. “Há casos em que evitam durante muitos anos falar sobre a guerra, erguendo uma muralha entre eles e a família, e acabam por ter de ser as mulheres as primeiras a procurar ajuda”, clarifica a psicóloga que dá apoio a vítimas de PTSD em algumas das delegações da Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra (APVG).

“Envolvimento emocional” e “convívio prolongado” são causas

A investigadora Susana Martinho de Oliveira “explica ao JPN que um “envolvimento emocional muito grande” pode levar ao surgimento deste tipo de perturbações nas mulheres das vítimas de PTSD. O “convívio prolongado” com os problemas dos maridos pode ser também outro factor condicionante, diz a psicóloga que estuda estas questões há sete anos.

Ainda assim, os sintomas desenvolvidos, quer nas esposas, quer nos filhos, embora idênticos aos dos ex-combatentes, não se manifestam de uma forma tão severa.

A investigadora chegou a estas conclusões com base em 66 famílias de ex-combatentes vítimas de PTSD, que, entre 2003 e 2008, recebiam ou tinham já recebido acompanhamento psiquiátrico ou psicológico na Associação de Apoio a Ex-combatentes Vítimas do Stress de Guerra (APOIAR).

Com uma idade média de 60 anos, o nível de escolaridade da maioria era a 4.ª classe e quase 70% deles estavam reformados. Já a idade média das mulheres ficava-se pelos 58 anos. Quase metade delas admitia já ter tido acompanhamento psicológico e um conjunto mais pequeno já tinha recebido apoio psiquiátrico. Os filhos, com idade média de 32 anos, não receberam, na sua maioria, qualquer tipo de acompanhamento deste género.

Susana Martinho de Oliveira tem já na forja uma tese de doutoramento sobre o mesmo tema. “Implementar um programa de intervenção psicoterapêutica para estas famílias” é um dos objectivos.