José Ferreira Gomes conhece bem de perto a Universidade do Porto (UP) e o ensino superior em Portugal. É professor na Faculdade de Ciências, exerceu as funções de vice-reitor entre 1998 e 2006 e assume, actualmente, o cargo de deputado na Assembleia da República. Como deputado espera conseguir com que o ensino superior receba “mais estímulos e maior regulação central”.

Além disso, Ferreira Gomes sublinha que “o Ensino Superior e a Ciência precisam de ajustes”. E isso passa, segundo o catedrático, pela criação de “oportunidades de cruzamento de experiência entre as várias instituições”, bem como por um maior auxílio por parte do Estado. “É um trabalho que não pode ser feito dentro da autonomia de uma Universidade”, justifica, logo “é importante que existam estímulos públicos, a nível do financiamento do ensino superior e das instituições”.

A UP é uma das maiores instituições do Ensino Superior em Portugal. Recebe estudantes de todos os pontos do país e também do estrangeiro, através do programa de mobilidade Erasmus. No entanto, Ferreira Gomes reforça que existem algumas áreas onde a instituição ainda se mostra pouco competitiva. “A Universidade do Porto deve ser competitiva num nível mais amplo, deve estabilizar a sua área de investigação e enriquecer a vida dos estudantes.”

Apesar de reconhecer que a investigação actual na Universidade ser claramente superior à da sua época de estudante, considera que esta componente deve ser mais desenvolvida, de modo a “reforçar o posicionamento internacional da UP”.

Esta melhoria da Investigação passa também por uma melhoria na qualidade de vida dos estudantes e no seu maior interesse pelo âmbito académico da Universidade. Isto porque José Ferreira Gomes admite que “existe pouco profissionalismo por parte dos estudantes, principalmente no primeiro ano”. Para o catedrático é importante que os jovens universitários comecem a entrar no espírito da vida académico e isso passa também pela investigação.

“Bolonha trouxe muita burocracia e poucos resultados”

A aplicação do processo de Bolonha em Portugal teve o forte contributo de Ferreira Gomes, enquanto vice-reitor da UP entre 1998 e 2006. Na altura, o catedrático acreditava que este processo traria “a modernização que o Ensino Superior precisava”. Contudo, o resultado desta aplicação ficou muito aquém do desejado, já que “a integração do processo de Bolonha foi feita com grande pressa, urgência e pressão.” “Bolonha trouxe muita burocracia e poucos resultados.”

As consequências da aplicação de Bolonha em Portugal são um aspecto que ainda permanece no pensamento do catedrático. Para Ferreira Gomes, “o que foi feito e continua [a ser feito] é uma situação que dói muito: ver um jovem com um curso de três anos sem nenhum apoio para a inserção no mercado de trabalho e sem saber se já é a altura ou não de o fazer”.