As estrelas que estejam muito próximas de estrelas massivas do tipo O podem ver os seus discos protoplanetários serem evaporados por ventos estelares de alta velocidade e radiação altamente energética.

A conclusão é revelada ao JPN pela astrónoma portuguesa Joana Ascenso, líder do projecto de investigação do fenómeno e surge como resultado de recentes observações da região RCW38 (na foto), onde se encontrou um binário de estrelas do tipo O (estrela mais brilhante no centro da imagem) a evaporar material que pertence a um objecto vizinho.

Esta interacção, “muito rara e nunca antes observada com este detalhe”, sugere, segundo a cientista, que os discos protoplanetários de estrelas muito próximas de estrelas O serão do mesmo modo evaporados por acção dos ventos estelares e radiação ultra-violeta. Desta forma, fica impedida a eventual formação de planetas em redor dessas estrelas. “Os resultados são ainda preliminares, mas parecem muito prometedores”, diz a astrónoma.

Os planetas formam-se em redor de algumas estrelas a partir de gás e poeira deixados para trás aquando da formação da própria estrela. “Esse material apresenta-se inicialmente sob a forma de um disco circum-estelar (um disco protoplanetário) que evolui ao longo de alguns milhões de anos para formar um sistema planetário semelhante ao nosso sistema solar”, explica a astrónoma.

As estrelas O são estrelas de grande massa, com 23 a 120 vezes a massa do Sol, e temperaturas acima do 30 mil graus centígrados (seis vezes superior à da nossa estrela), e a que estão associados ventos de alta velocidade e elevada radiação energética. Em súmula, são péssimas vizinhas.

Conclusões finais reveladas em Março

RCW38 é uma região de formação estelar que alberga milhares de estrelas jovens de todas as massas, envoltas numa nebulosa de gás e poeira. Imagens mais antigas desta região atraíram a atenção da cientista que, suspeitando da forma como os elementos se pareciam alinhar, apresentou uma proposta de observação ao Observatório Europeu do Sul (ESO). As observações foram levadas a cabo pela própria, a partir do Very Large Telescope (VLT) situado no Chile, usando um instrumento de alta resolução o NACO.

Este estudo, com publicação prevista para Março, revela que a formação e sobrevivência de planetas pode depender fortemente da posição da estrela no enxame, em particular da sua distância às estrelas de maior massa. A constatação é extremamente importante para o conhecimento da formação de planetas.

Joana Ascenso é astrónoma do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP). Foi nesta universidade que concluiu a sua licenciatura, mestrado e doutoramento, tendo dividido o seu doutoramento entre o CAUP, no Porto, o ESO em Munique, na Alemanha, e o Instituto de Astrofísica de Andaluzia (IAA) em Granada, Espanha.

Depois do doutoramento, trabalhou como cientista do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, em Cambridge, nos EUA., e recentemente regressou ao Porto, onde se encontra actualmente. A astrónoma colabora, ainda, num projecto de divulgação científica no âmbito do Ano Internacional da Astronomia.