A somar a centésima sessão, as Quintas de Leitura continuam a perseguir o mesmo conceito familiar e versátil de 2002, convidando artistas do Porto e do resto do país, jovens autores e escritores consagrados, unidos pela poesia.

O homem por trás dos poetas chama-se João Gesta e, enquanto programador cultural, é o grande responsável pela 100.ª sessão que se realiza, esta quinta-feira, no TCA.

Neste encontro, o TCA ornamenta-se a rigor com um ambiente de verdadeira festa. Em “Leica Virgem” a maior novidade é a “aparição de oito disseurs seleccionados no casting dos meses anteriores“, conforme refere João Gesta na véspera do encontro. E, por se tratar da sessão 100, não há um poeta em destaque, mas vários. O leitor “da casa”, Pedro Lamares, encarregou-se da selecção de vários textos, que vão ser apresentados com “O Fraseador”.

A festa é apresentada pela já habitué Adriana Faria que, desta vez, aparece acompanhada pela estreante Teresa Coutinho. “Uma é morena, a outra sabe-se lá. Serão as porteiras da noite”, é o que se pode ler sobre as apresentadoras no texto de apresentação da sessão.

Mais uma vez, também neste encontro a poesia faz-se de música. B Fachada inicia a digressão aqui. O músico já familiar das Quintas, Raúl Peixoto da Costa, que noutros contextos esgota a Sala Suggia, oferece à plateia poética 15 minutos de Chopin.

João Gesta refere ainda a estreia inédita de 11 bailarinos, no palco das Quintas de Leitura, pela “força máxima dos Vortice Dance Company”.

O ponto máximo desta Quinta de Leitura é a pressão sentida pelo público fidelizado que já esgotou, antecipadamente, a sala da sessão 100, o que também “aconteceria, com toda a certeza, se ela tivesse o dobro da capacidade”, afirma João Gesta. Agora, o maior desafio passa por “manter este mesmo público e sucesso nos próximos anos”, conclui o programador cultural, que já prepara o próximo espectáculo a realizar-se apenas “no feminino”.

No início era a dúvida

Quando João Gesta assumiu funções de programador cultural do TCA, havia muitas dúvidas e poucas certezas de que as pessoas estivessem dispostas a pagar para ouvir (e ver) poesia. “É possível que funcione um ano ou dois mas ninguém paga por poesia”, diziam-lhe. O programador e também poeta assumiu o risco.

Adolfo Luxúria Canibal, valter hugo mãe, Sandra Salomé, Catarina Nunes de Almeida, Filipa Leal e José Luís Peixoto são alguns dos nomes que já passaram pelo palco do TCA. Agora, passados quase oito anos desde a estreia, as “caldeiradas explosivas” que caracterizam as sessões, como graceja Gesta, conseguiram reunir um público seduzido e fidelizado.

Para muitos, as leituras já fazem parte da rotina mensal. O responsável pelo conceito, que desde os anos 80 participa e organiza recitais em cafés e galerias de arte, reconhece que a cidade sempre teve uma tradição muito grande de poesia e diz ter sido nessa altura que se ensaiavam as muitas práticas que “agora se fazem de forma profissional”.

“A poesia necessita de ser inter-penetrada por todas as outras áreas da expressão artística”, diz, e por isso atribui grande responsabilidade e mérito aos diseurs. Afinal, a forma como se comunica é fundamental. Para o programador dos ciclos de poesia, a cumplicidade, a criatividade e a qualidade são palavras-chave para as sessões funcionarem.