“Não é comum falar sobre robótica num festival de cinema.” Foi com estas palavras que Peter Corke deu início à primeira conferência do ciclo “Robótica e Cinema”, organizado pelo Fantasporto em colaboração com a Sociedade Portuguesa de Robótica

O investigador da Universidade de Queensland, na Austrália, aproveitou a sessão para reflectir sobre o papel dos robots enquanto “extensões das capacidades humanas” em campos como a medicina ou no que toca à exploração de ambientes e planetas desconhecidos.

Próxima conferência:

Esta sexta-feira, está agendada a segunda conferência do ciclo “Robótica e Cinema” com Aníbal Ollero, professor da Universidade de Sevilha. Ollero é autor e co-autor de mais de 350 publicações científicas e director científico do novo “Center for Advanced Aerospace Technologies”.

O professor australiano deu especial destaque à aplicação da robótica na extracção mineira, actividade com muito peso no seu país. Segundo Peter Corke, deve haver uma adaptação da robótica ao contexto económico para aumentar a eficiência. E é neste sentido que as capacidades dos robots podem ultrapassar as humanas.

Apesar de hoje o homem conseguir controlar “três a cinco máquinas sozinho” – algo, ainda assim, paradoxal, já que depende inteiramente da maquinaria -, os robots apresentam outras vantagens. “São imunes”, diz Corke, já que conseguem ultrapassar obstáculos que, para os seres humanos, seriam potencialmente fatais, e conseguem entrar em ambientes hostis.

Sobre o futuro, o investigador define três grandes etapas para o desenvolvimento da robótica: o uso das máquinas como aumento das capacidades humanas, a substituição do trabalho humano e, finalmente, a utilização in-situ, sem necessidade de transporte dos materiais para o tratamento.

O cinema na robótica

“A maioria dos produtos que usamos foi manuseada por robots”, alerta Peter Corke. Segundo o investigador, existem cinco milhões de máquinas no planeta, sendo que estas raramente estão à vista. Esta observação foi o mote para o início de uma discussão, moderada pelos investigadores portugueses do Instituto de Sistemas e Robóticas (ISR), José Santos e Jorge Dias.

“Não aceitamos o mundo como ele existe e tentamos mudá-lo com as nossas ferramentas”, nota José Santos. O cientista do Instituto Superior Técnico (IST) faz assim a ponte com o cinema de ficção científica.

O debate desenrolou-se à volta de questões como as desvantagens dos robots humanóides, uma realidade muitas vezes retratada no cinema. Em tom de brincadeira, José Santos pôs a hipótese da robótica ficar a ganhar “com a presença dos realizadores de filmes de ficção científica” nos seus projectos.