A “falta de oferta cultural” foi o mote para o projecto “Variação da Cultura“. Durante o próximo meio ano, a esquecida sala-estúdio Latino do Teatro Sá da Bandeira (TSB) vai receber teatro, dança e cinema. A estreia faz-se hoje, terça-feira, às 21h45, com a mostra de curtas-metragens documentais de realizadores portuenses (ver caixa).

A iniciativa não conta com qualquer espécie de apoio monetário ou logístico, conforme esclarece Ivo Bastos, da Companhia Palmilha Dentada. A companhia, salienta o responsável, até concorreu ao subsídio “pontual” para “dinamização cultural” do Ministério da Cultura, mas não obtiveram resposta.

Hoje, no TSB:

Para a noite de estreia, hoje, terça-feira, às 21h45, exibem-se as curta-metragens “Zone d’attente #00” (Frederico Lobo, Luisa Homem, Pedro Pinho), “Territórios” (Mónica Batista), “Flores Magras” (Saguenail) e “Lefteria=Liberdade” (Tiago Afonso)

A “junção de vontades de colectivo” faz avançar o projecto que, sem qualquer certeza de rentabilidade, não é um risco calculado, mas antes “um risco necessário”. Segundo Ivo Bastos, a acção interventiva a que se propõem, permite aos performers e companhias presentes um “espaço físico para apresentarem o seu trabalho”, já que estes não têm uma sala de ensaios e de espectáculos regular.

Os organizadores pretendem, acima de tudo, “chamar a atenção à cidade” e não só, visto que a companhia não está apenas “preocupada” com isto. “Numa linguagem mais marxista, é uma iniciativa quase que corporativista que será o nosso último grito: ou o do Ipiranga ou o canto do cisne.”

Cinema em Março

Durante o mês de Março, o documentário de autor marca presença todas as segundas e terças, às 21h45, no TSB, seguindo-se uma conversa com os realizadores. A iniciativa é levada a cabo por Tiago Afonso e Jorge Quintela, realizadores e responsáveis pela temática cinéfila do projecto Variação da Cultura.

Tiago Afonso refere que esta iniciativa passa por “tentar dar apoio à maior dificuldade encontrada pelos jovens cineastas no circuito e mercado da distribuição cinematográfica”. Neste sentido, as sessões contam com filmes de ficção, ensaio e animação dos estudantes das escolas de audiovisuais da cidade, como a ESAP, a Universidade Católica e o IPP, e com a participação de antigos estudantes, agora realizadores, que continuam a trabalhar no Porto.

Quando confrontado com a coincidência da estreia da mostra documental com o Fantasporto, Tiago não teme que a afluência de público seja afectada, até porque “a programação apresentada no TSB nada tem a ver com a oferta do festival”. “Estamos a falar claramente de uma realidade e de um consumo bastante diferente”, conclui.

A organização, composta por 87 profissionais da área e 15 companhias, entre as quais o Teatro da Palmilha Dentada, a Mau Artista e a Tenda de Saias, espera que ao longo dos próximos seis meses, cerca de 15 mil espectadores passem pelo TSB. Para além do cinema, vão realizar-se espectáculos de dança, teatro e performances.