O crítico de televisão e publicidade, Eduardo Cintra Torres, foi o primeiro convidado dos Seminários de Comunicação Política desenvolvidos no curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto. Na sua opinião, poderá estar a surgir um novo paradigma na relação entre os media e o poder político e tem havido uma tentativa de “calar as vozes mais críticas”, cujo papel é, segundo o mesmo, dizer “o Rei vai nu”.

Esta alteração, ainda não comprovada pelo crítico, surge no seguimento de uma série de acontecimentos políticos em vários países, incluindo Portugal. Através de vários exemplos, Cintra Torres procurou mostrar que existem várias formas de intervenção, por parte dos governos, no funcionamento dos órgãos de comunicação social.

Bombardeamento informativo, regulação mais apertada, propaganda ou relações privilegiadas com os media, são algumas das formas a que o poder político recorre para controlar os media e utilizá-los a seu favor, segundo Eduardo Cintra Torres. A Rússia foi um dos exemplos dados pelo crítico, com a televisão estatal a ser “fundamental para consolidar o poder de Putin”. Ainda em exemplo, Cintra Torres refere que, na França, Sarkozy “é amigo dos media todos”.

Portugal não foge à regra e, na opinião de Eduardo Cintra Torres, “há um uso ilegítimo dos órgãos do Estado”. Segundo o crítico, desde 2005 que se tem “construído uma governação através dos media”, de que são exemplo o fecho do Jornal Nacional de sexta da TVI ou o afastamento de Marcelo Rebelo de Sousa da RTP, resultado da influência política. “Não é por este governo não ter maioria absoluta que não consegue acabar com o programa do Marcelo Rebelo de Sousa”, entende.

Eduardo Cintra Torres considera que “os media têm vindo a moldar a política” e que se “confundem com o processo político”. “Daí a necessidade do governo não perder o pé em relação aos media”, explica. Esta tendência crescente para o controlo do poder mediático, na opinião do crítico, verificada um pouco por todo o mundo, só pode ser contornada por uma maior intervenção de cidadania junto dos jornalistas e por pressão junto dos políticos.