Estreou na quarta-feira, 3 de Março, no Cine-Teatro Constantino Nery, o musical de Carlos Tê, “Amor Solúvel”. A peça encena um consultório sentimental transmitido em directo de um estúdio de televisão. O estúdio dá lugar à história das personagens (um professor, uma entrevistadora, dois operadores de câmara e uma maquilhadora) que, ao avançar da peça, vão confessando pedaços da sua vida.

O professor Dionísio (Romeu Costa) fala sempre em código metafórico e desdobra-o para dissecar, de ponta a ponta, o que sabe do amor. Refugia as teorias na ciência, como se patenteasse as suas suposições sobre o amor.

No final, é ele que passa da posição de dissecar o amor, para ele próprio se cansar de não o perceber. Nas palavras de Carlos Tê, “o professor é um estereótipo muito especial dos professores que abordam esse tipo de temas na televisão e na rádio. Este acaba por sofrer essa inversão” quase catársica de quem passa a sofrer dos problemas que resolve.

Mónica, a apresentadora (Joana Manuel), parte para a missão de moderar o programa, mas cedo começa a tentar ela própria perceber o amor. Paralela ao programa passa a haver uma “micro guerra dos sexos”, em que a apresentadora se preocupa em contrapor certezas, na sua opinião, machistas, que o professor tenta disfarçar de ciência.

A música na peça

É a partir dos momentos musicais que as personagens quebram defesas e demonstram aquilo que as câmaras não vêem. É a canção que abre espaço para todas as intervenções que se dissolvem na “vasilha metafórica” das definições de todos.

Luísa Pinto, encenadora estreante neste registo, fala nas implicações que a inclusão destes momentos têm no processo de construção da peça. “O processo tem logo implicações ao nível do casting. Eu tinha que contratar actores que soubessem cantar muito bem. Isso foi o mais complicado. Depois disto, há toda uma questão musical com arranjos, em estúdio.”

“Amor Solúvel” acaba por roçar o registo de ensaio, visitando várias concepções de amor e formulando hipóteses de teorias sobre tudo o que o envolve. As respostas dirigem-se tanto aos espectadores que enviam as questões, como para todos os que assistem. Tudo sob um pendor cómico e assumidamente irónico.

A peça está em cena até ao dia 28 de Março, com sessões de quarta a sábado às 21h30 e ao domingo às 16h00.