Passados sete anos da sua última aula, Siza Vieira, nome maior da arquitectura portuguesa, voltou à Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP), para participar no debate “Fundação Iberê Camargo: o Projecto, a Obra, as Tecnologias”. O arquitecto foi convidado pela revista “Cadernos d’Obra” a apresentar um dos seus projectos mais emblemáticos, cuja excelência foi reconhecida com o prémio Leão de Ouro da Bienal de Arquitectura de Veneza, em 2002.

Siza Vieira aproveitou a oportunidade para tecer considerações acerca da regulamentação que afecta as construções. Na sua opinião “a regulamentação [em toda a Europa] é tão pesada que roça o absurdo” pelo que “começa a ser difícil” trabalhar na área. Segundo Siza, os decisores “partem do princípio que os edifícios são mal projectados”.

Perante uma plateia cheia de futuros arquitectos, o decano da FAUP afirmou que “o desafio das escolas de arquitectura é por bom senso na febre de regulamentação”. “A esperança para a arquitectura está na capacidade dos engenheiros das diferentes especialidades de domesticar a regulamentação”, acrescentou, ainda, no final dum discurso em que enalteceu a cooperação entre a arquitectura e a engenharia.

Fundação Iberê Camargo: Uma obra que nasce da cooperação

Siza Vieira referiu-se ao Museu Iberê Camargo como “uma obra completa”, que reuniu todos os ingredientes para ser bem sucedida. Contribuíram para o sucesso aspectos como o “interesse de todos em ter uma obra de qualidade”, a cooperação da equipa de trabalho e a beleza do local. Mas as dificuldades também existiram, desde a densa vegetação envolvente que a equipa não queria destruir, ao importante troço de auto-estrada que passa na frente do espaço.

Revista “Cadernos d’Obra”

A revista “Cadernos d’Obra” é uma publicação científica internacional sobre construção de edifícios lançada pelo grupo GeQualTec em Janeiro de 2009. O grupo está inserido na Secção de Construções Civis do Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia do Porto. Vitor Abrantes, presidente do GeQualTec e director da “Cadernos d’Obra”, esteve presente no debate de sexta feira, onde adiantou que já está a ser pensada uma próxima edição da revista.

As dificuldades foram contornadas num processo que o arquitecto mostrou detalhadamente com recurso à projecção de imagens de esboços, maquetas e fotografias do local.

Nasceu uma obra com características únicas, afinal “um museu não pode ser qualquer coisa”. O “abraço das rampas” em volta do edifício, as salas amplas e de formato rectilíneo, as pequenas aberturas que permitem iluminar todo o edifício e a frente ondulada em “simetria com a ondulação do terreno” fazem do Museu Iberê Camargo uma obra arquitectónica bastante particular.

Para acompanhar Siza na apresentação da obra, estiveram presentes no auditório da FAUP o Engenheiro Jorge Silva, responsável pelo projecto de estruturas, e o engenheiro Raúl Bessa, responsável pela climatização. Trata-se de duas áreas em que a cooperação entre arquitectura e engenharia permitiu o desenvolvimento de um projecto sustentável.

A obra galardoada internacionalmente tornou-se numa referência não só nos meios arquitectónicos com da engenharia. Na segunda edição da “Cadernos D’Obra”, o projecto da Fundação Iberê Camargo é abordado sobre perspectivas científicas da arquitectura e da engenharia, por autores como o arquitecto Alexandre Alves Costa, Kenneth Frampton, Rafael Moneo, e os engenheiros Vasco Freitas, Raimundo Mendes da Silva, Silva Afonso e Ângela Nunes.