Quem olha para o n.º 72 da Praça Carlos Alberto, dificilmente acredita que, por detrás da fachada amarela e da grande porta vermelha com aspecto renovado, os apartamentos apresentem ainda debilidades. Remodelado há pouco mais de um mês, no âmbito do programa Recria, o interior do edifício não agrada aos moradores, que dizem que as obras não justificam o aumento das rendas.

“Na minha casa não fizeram nada”, afirma Maria Ferreira enquanto limpa recentemente pintada escadaria azul do edifício. Apesar da pequena intervenção que a sua casa sofreu, a moradora viu a renda aumentar de 12,5 euros para 85 euros, valor que entende não compensar o resultado da intervenção. “Eu pagava muito pouco, porque já estou aqui há muito tempo, há 50 anos!”, refere.

Depois de ter ficado mais de um ano a viver noutro local por causa das obras, Maria afirma que já esperava o que encontrou quando voltou ao apartamento, porque foi “várias vezes ver as obras”. “O engenheiro aldrabou isto tudo”, refere a moradora que acha, também, que a própria senhoria foi “vigarizada” no que toca ao resultado das obras.

Dois andares acima mora Humberto Mota. Esteve três anos há espera do fim das obras e diz que o tempo de espera “não as justifica”. Durante este período, viveu num bairro camarário juntamente com a sua jovem família. Ao mudar-se hoje, terça-feira, para o apartamento, também esperava, tal como a vizinha Maria, o resultado da intervenção, pois também foi várias vezes ver as obras, que estiveram “muitas vezes paradas”.

Antes das obras, Humberto diz que o edifício estava “todo podre”, sendo que um dos principais problemas era a infiltração de água. O problema mantém-se, já que continua a chover dentro do apartamento. Para agravar a situação, os canos “vertem água” e as janelas não têm “puxadores”. A casa está também “mais pequena”, diz Humberto, referindo-se à construção de uma casa de banho na antiga sala, diminuindo-lhe o espaço.

Reparações ainda necessárias após reabilitação

Assim como Maria, também Humberto viu a sua renda aumentada em 200 euros, encontrando-se agora a pagar 250. Com muitas falhas nos apartamentos, os moradores queixam-se de ter de pagar do seu bolso as reparações necessárias para poderem resolver alguns dos problemas deixados pelas obras de reabilitação.

As obras de reabilitação do edifício surgiram após um levantamento feito pela Porto Vivo, SRU – Sociedade de Reabilitação Urbana da Baixa Portuense S.A., que tem como objectivo, segundo o que pode ser lido no site da empresa, “conduzir o processo de reabilitação urbana da Baixa Portuense”. A Porto Vivo pode, segundo o mesmo site, “orientar o processo, elaborar a estratégia de intervenção e actuar como mediador entre proprietários e investidores, entre proprietários e arrendatários”, tendo apenas um papel administrativo no que toca à reabilitação da habitação em causa. As obras ficaram ao encargo da proprietária do edifício.

O JPN tentou obter informações relativamente ao caso junto da Câmara Municipal do Porto (CMP), que também representa um papel na reabilitação urbana, mas não obteve resposta em tempo útil. No entanto, em declarações ao jornal Público, a CMP reitera que o “prédio pertence a um senhorio particular” que “definiu as obras realizadas”, já que o programa Recria apenas “comparticipou parte das obras”. Acrescenta, ainda, que a sua intervenção nestas obras apenas diz respeito ao “alojamento provisório dos moradores”, uma vez que “incentiva a reabilitação de prédios degradados” no Porto.