A segunda edição do INOV-Art, programa de estágios internacionais, recebeu, mais uma vez, inúmeras críticas relativamente ao processo de selecção dos candidatos. Apesar das queixas à primeira edição, o número de candidatos subiu. Registararam-se 3169 inscrições, sendo que apenas 2337 foram consideradas elegíveis.

Maria Davim, arquitecta, João Paulo, fotógrafo, Ana Gonçalves, designer, Filipa Campos, designer de Comunicação e Eduardo Castro Fonseca, com formação em produção de cinema e televisão, são cinco dos candidatos eliminados do programa INOV-art, uma iniciativa do Ministério da Cultura e coordenada pela Direcção Geral das Artes (DGArtes).

A oportunidade de conseguirem um estágio profissional fora do país e uma experiência de vida diferente serviram de motivação a estes cinco jovens no momento da candidatura ao programa. No entanto, criadas as expectativas e após o conhecimento do resultado final, resta a frustração. A par deste sentimento, todos se sentem injustiçados com algumas situações ocorridas durante o processo de selecção e recrutamento de candidatos.

Candidatos indignados com processo de selecção

“É um processo completamente estúpido de selecção, porque o currículum não interessa em nada”, afirma Maria Davim. Para concorrer, os candidatos tinham de enviar junto com a candidatura, a carta de motivação e o currículum vitae. Após a verificação formal da candidatura, os participantes seriam convocados para realizar diferentes provas numa empresa de recursos humanos denominada “WeChange”. Nas provas, foram testadas competências linguísticas, pessoais e aptidões específicas na área de estágio dos candidatos.

Ana Gonçalves partilha do mesmo sentimento de Maria Davim. Considera que “o INOV-Art não funciona da melhor maneira” e destaca como problema o de selecção, que é “bastante redutor e limitativo”. “A bateria de testes e jogos dinâmicos em nada ajudava a perceber se eu era uma boa designer”, refere. Eduardo Castro Fonseca vai mais longe e afirma ter sido “mal tratado pela WeChange”. “Houve uma situação em que estava a fazer um teste de setas e depois observei as psicólogas a rirem-se, a olhar para as folhas de resposta”, revela.

A DGArtes, contactada pelo JPN, relativamente aos responsáveis pela avaliação das provas, salienta o reforço de “especialistas nos diversos momentos de selecção e avaliação das candidaturas” para evitar este tipo de situações. A organização garante, também, que não houve incongruências no processo de selecção, afirmando-o como “transparente e exigente”. “Os candidatos conhecem de antemão [o processo de selecção] antes de serem convocados”, confirma fonte da direcção.

A mesma ideia não é partilhada pelos candidatos eliminados. “Pessoas com ressaca que não abrem a boca e depois passam” ou “pessoas que se candidataram e nem sequer passaram o teste de línguas e foram chamadas” são alguns dos exemplos que os candidatos dizem conhecer e que os motiva a não acreditarem na transparência do processo.

“Programa de carácter único, excepcional a nível internacional”

Apesar das críticas feitas, o certo é que os candidatos continuam a inscrever-se, até porque o programa de estágios internacionais é, segundo a DGArtes, um projecto de “carácter único e excepcional a nível internacional”.

Maria Davim e Filipa Campos concordam, elogiando a iniciativa da DGArtes. “Eu acho que é uma óptima iniciativa”, afirma Filipa Campos. Maria Davim destaca, também, a eficácia dos meios de comunicação.

O que atrai os concorrentes a participar neste programa de bolsas para estágios internacionais é a disponibilização de 200 bolsas para estágios com duração de nove meses. No entanto, estas não chegam para apoiar os milhares de candidatos que procuram um estágio profissional fora de Portugal, como resposta ao desemprego. A resposta a tanta procura poderá passar pela disponibilização de bolsas a estágios de menor duração (mínimo de três meses), situação não descartada pela organização.

Os candidatos seleccionados têm direito, mensalmente, a uma bolsa de formação, subsídio de alimentação e alojamento, subsídio de ligação à Internet, viagens pagas e, ainda, seguro de saúde e acidentes pessoais.

Ainda falta atribuir bolsas da edição deste ano devido ao prolongamento da terceira fase de avaliação (Matching) até à primeira semana de Abril. Os candidatos seleccionados para as bolsas ainda a atribuir serão notificados individualmente até 12 de Abril.